A toxicodependência é encarada na sociedade atual como um flagelo que atinge aqueles que escolhem envolver-se nela. O que a sociedade esquece é que a liberdade do indivíduo consumidor de estupefacientes termina após os primeiros consumos. De facto o indivíduo é livre de decidir se quer experimentar ou se quer continuar a consumir droga, consoante o bem-estar que lhe causa, mas após aquilo a que vulgarmente chamamos de dependência o quadro muda. Deixa de ser uma mera escolha para ser uma necessidade fisiológica incontrolável.

A dependência de estupefacientes cria no indivíduo consumidor um conflito interno, onde a angustia e o desespero estão ancorados à necessidade do consumo e à ressaca. É possível assemelhar essa necessidade à fome ou à sede, é algo que ultrapassa a própria consciência entre o bem e o mal do indivíduo. Onde a única meta a atingir é a saciedade da carência.

Os vulgares “charros” ou “ganzas” consumidos normalmente na juventude, ainda que leves, podem abrir a porta à curiosidade de experimentar drogas mais pesadas. Dependendo da droga, o primeiro consumo pode ditar o destino do indivíduo. É erróneo pensar que a droga deixa o indivíduo parar quando quer, a droga não se compadece. Não é o consumidor que consome a droga, mas sim a droga que consome o consumidor.

É certo que a droga faculta uma sensação inexplicável ao indivíduo consumidor, entrando na sua vida como um complemento que apaga os problemas e o torna invencível. Porém é fugaz. Porém destrói. Porém, é simplesmente uma forma de degradação gradual do consumidor.

Ao contrário do que se pensa, a maioria dos indivíduos toxicodependentes quer largar o vício e tem consciência do dano que a droga lhe causa, mas não é tão simples sair desse mundo como se imagina. O apoio da família e amigos, as clínicas de recuperação ou os tratamentos de desintoxicação, só fazem sentido quando o individuo tem uma força interior mais forte que os estupefacientes que o dominam. E é aqui que se entra no ciclo vicioso. Pois se o indivíduo procura a droga é porque esta lhe confere a força de que necessita, mas só é detentor dessa mesma enquanto está sob o efeito da droga, perdendo-a quando entra em ressaca. São amarras das quais dificilmente se liberta.

Viramos a cara quando vemos um toxicodependente na rua, negamos dinheiro, negamos ajuda. Mas como o próprio nome indica é um dependente. E a dependência seja ela de que tipo for, faz-nos fazer o impensável.

A toxicodependência não é pois um crime, é uma opção por vezes errada, que acarreta sérias consequências a todos os envolvidos.