Um projecto de inclusão e de sucesso comprovado

De 11 de setembro a 29 de Outubro vai decorrer no Centro Cultural Malaposta a 9º Festa do Teatro Amador, evento anual que vai levar à sala do Olival Basto 21 grupos que farão 24 apresentações e tem este ano como patrono Carlos Paniágua Féteiro, diretor artístico do Teatro Independente de Loures.

Para conhecer melhor este evento, que é já reconhecido a nível nacional com um crescimento enorme de ano para ano, o Odivelas Notícias foi à Malaposta conversar com João Rodrigues, o coordenador da festa.

João RodriguesJoão Rodrigues começou por sublinhar a importância e o cariz especial desta edição, para a Malaposta, porque o patrono é Carlos Paniágua Féteiro, há muito anos diretor artístico do Teatro Independente de Loures (TIL), «Um homem do teatro» que vai estar com duas encenações, apresentadas pelo TIL nesta edição da festa. Manuel Coelho, director artístico da Malaposta, no programa da festa (ver caixa) fala assim de Carlos Féteiro: «A forma única como fez do Teatro a sua vida leva-nos a refletir de como a humanidade está carente da humildade de seres como Carlos Paniágua Féteiro-Ator Encenador Amador de Teatro, para um crescimento harmonioso e sensível».
Também a 7ª produção do Grupo de Teatro Sénior de Odivelas (GTSO) foi destacada nesta conversa com João Rodrigues. Nesta festa o GTSO vai estrear A Carroça dos Saltimbancos a partir da obra, com o mesmo nome, de Fernando Lobo, com encenação de João Rodrigues. «É um grito de força e de coragem perante a idade e perante a crise. É a história de um grupo de palhaços que estando no desemprego se junta para levantar um projeto circense. Convido todos os leitores do Odivelas Notícias a estarem presentes porque, sem dúvida, é um texto fabuloso, um espetáculo muito bonito».
O êxito sempre crescente da Festa de Teatro Amador da Malaposta levou a que ano após ano o número de propostas para participação não evento seja maior não podendo ser acolhidas todas. Por isso perguntámos a João Rodrigues que critérios são aplicados para a seleção. «A Festa de Teatro Amador é essencialmente um projeto de inclusão e por isso tentamos que não haja elitismo do ponto de vista da linguagem e critérios muito apertados. Muitas vezes não valorizamos o rigor ou a qualidade dos trabalhos mas a situação geográfica (damos muita primazia aos projetos do concelho porque é aqui que a Malaposta se encontra e vive do financiamento da Câmara Municipal de Odivelas, sendo nosso interesse e obrigação dar essa prioridade aos projetos locais) e a antiguidade na festa (Realçaria o Grupo Dramático Povoense, da Póvoa de Santa iria, ou o Grupo de Teatro de Queluz que estão connosco desde a primeira edição). Há alguns projetos que queremos manter connosco porque são muito válidos e fazem um trabalho muito interessante com as suas comunidades. Outro dos critérios é o próprio projeto em si, de acordo com o seu contexto social e o trabalho que faz com a comunidade envolvente. É claro que tentamos sempre ter em conta a qualidade mas a Festa de Teatro Amador é, acima de tudo, um projeto de inclusão».
João Rodrigues sublinhou ainda que «Nesta edição vamos ter uma mais-valia que considero muito especial e que é um festival dentro do próprio festival e que é o Festival de Teatro Terapêutico, que vai acontecer nos dias 23 e 24 de setembro, em que temos como cabeça de cartaz o Grupo de Teatro Terapêutico do Hospital Júlio de Matos. No âmbito desse evento vão ser apresentados três espetáculos que eu vivamente recomendo porque é um trabalho fabuloso feito com pessoas que têm problemas ao nível da demência mental».
Na 9ª Festa do Teatro Amador vão participar alguns grupos de concelho de Odivelas. A festa vai abrir com o Grupo de Arte Dramática de Odivelas e «Vamos ter também um projeto que eu acho muito interessante que chama Trio Ricochete que é um espetáculo de música teatralizado». O Artecanes, grupo de teatro da Sociedade Musical e Desportiva de Caneças e o Grupo de Teatro Sénior de Odivelas também constam do programa.
Em cada ano que passa cada vez mais público vem assistir aos espetáculos da Festa de Teatro Amador e tem vindo também a crescer a quantidade dos espetáculos e das representações. «Para além do crescimento verificámos, com algum regozijo, que há um determinado nicho de público que se começa a fidelizar, que vem todos os anos à festa. Tentamos através da inclusão de novos grupos e de novos projetos trazer novos públicos mas, acima de tudo, interessa-nos realçar que há um publico que se começa a fidelizar com a festa».

A Festa vista por Manuel Coelho

manuel coelhoAbrimos a nova Temporada com mais uma Festa de Teatro Amador e sabemos já que irá ser um encontro fantástico de artistas e projetos. A oferta será muita, dado o vasto leque de espetáculos que compõem o programa os quais nos irão oferecer momentos mágicos e únicos da sublime arte de Talma.
Com mais esta Festa pretendemos acima de tudo que o Centro Cultural da Malaposta continue a ser um local onde o encontro promova o convívio a discussão a descoberta e a aprendizagem constante.
Por esta Festa desfilarão sentimentos, pensamentos, imagens e movimentos que nos transmitirão a dimensão poética e criativa de todos quantos continuam a ter no Teatro o poder de equilíbrio, desenvolvimento e crescimento interior do seu Ser.
Este ano teremos entre nós como patrono um Homem cuja vida foi na íntegra dedicada ao Teatro. Carlos Paniágua Féteiro – Ator e Encenador Amador de Teatro
A forma única como fez do Teatro a sua vida leva-nos a refletir de como a humanidade está carente da humildade de seres como Carlos Paniágua Féteiro-Ator Encenador Amador de Teatro, para um crescimento harmonioso e sensível.
São de enorme beleza e sensibilidade os pensamentos que nos tributa acerca do quão importante é habitar este vasto mundo a que se denominou Teatro.
Realça-nos Carlos Paniágua a importância e é o papel do Teatro de Amadores como socializador das classes e com função determinante na educação do indivíduo e na maneira de estar perante as outras pessoas: toma-se sempre uma postura corporal cuidada, e um tom de voz e dicção entendíveis;
Perdoem-me que não resista a dar-vos a conhecer a Beleza de uma confidência de Carlos Paniágua aquando de uma das muitas justas homenagens de que já foi alvo, sobre o início da sua ligação ao mundo do Teatro de Amador, nas Caldas da Rainha.
“Foi aí, nesse mundo, que conheci, namorei e casei com aquela que é hoje minha mulher, também ela uma amadora de teatro. E um grande orgulho meu é que também os nossos filhos e os nossos netos comungam esta nossa paixão envolvendo-se entusiasticamente no mundo do teatro. São três gerações…”
É de fato nesta família que habitamos, a família teatral onde o amor a compreensão e o desejo de conhecer o outro em todas as sua plenitude faz de todos quantos a abraçaram seres de um grande humanismo.
O Amador é feito de ingenuidade de infantilidade, de sensibilidade e de coragem na busca do personagem a interpretar. Sem medo de errar sem medo de cair no ridículo ele expõe-se perante todos nós no ato mais sublime de humildade que se chama Teatro.

Abracemos esta enorme massa humana que faz da arte a sua razão de ser e existir e que com muito esforço e dádiva nos tributa os espetáculos que nos próximos dias iremos receber.

Viva o teatro!

Manuel Coelho
Diretor artístico da Malaposta

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