No domingo, 19 de janeiro, a Associação para a Educação Islâmica de Portugal (AEIP) promoveu uma procissão que contou com a participação de cerca de duas centenas de pessoas e percorreu algumas ruas da cidade de Odivelas com início e término na sua sede, na rua 3 de Abril de 1964. O evento teve como objetivo assinalar o «Grande Evento do Nascimento do Nosso Querido e Amado Profeta Maomé (SAW) a Paz e a Bênção de Deus estejam com Ele» e contou com a presença do Imã da Mesquita de Lisboa, Sheik David Munir.

 

Junto à Mesquita e sede da Associação cedo se concentraram as cerca de duas centenas de pessoas que iriam integrar a procissão. Apesar da chuva que se fazia sentir os participantes não desanimaram e fizeram todo o percurso com grande entusiamo e manifestação de fé.

Ao longo do percurso foram feitas várias paragens onde com cânticos e algumas intervenções, uma delas do Sheik David Munir, Imã da Mesquita de Lisboa. Ás pessoas que se cruzavam com a procissão iam sendo oferecidas flores num gesto simbólico de paz e amizade. A meio do percurso foi servida um alimento quente composto por leite e aletria que ajudou a suportar o frio desta tarde invernosa.

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 Maomé é um exemplo, um modelo

 

No final do evento o Odivelas Notícias conversou com o Sheik David Munir a quem questionámos sobre as motivações e importância deste evento.

«Podíamos estar horas e horas a falar sobre o Profeta Maomé sem sermos justos a dignifica-lo. O profeta nasceu no terceiro mês do calendário islâmico e é normal que os muçulmanos em todo o mundo falem sobre ele, da sua conduta, personalidade, da forma como ele recebeu e transmitiu a mensagem.  

É interessante ver que as pessoas de Meca, onde nasceu e viveu até aos 53 anos, antes de ele receber a revelação, aos 40 anos, as pessoas já lhe chamavam “O fiel” e o “Justo”. Podemos assim considerar que foram as próprias pessoas de Meca que lhe deram esse título vendo a personalidade dele. Há quem diga que Deus escolheu a pessoa que já tinha sido escolhida pelas pessoas de Meca.

Maomé recebe as primeiras mensagens, e a mensagem do Islão no que respeita à crença é monoteísta, sendo o Islão uma religião abraâmica que acredita na existência de um único Deus, nos profetas e nos mensageiros, sendo ele, Maomé, último mensageiro. Então, para os muçulmanos ele é um modelo, um exemplo.

É interessante que quando alguém diz blasfémia sobre Deus ninguém reage. Há pessoas que dizem que Deus não existe, há pessoas que dizem que Deus não é uno, é três, quatro, cinco. Mas quando alguém toca na personalidade do profeta Maomé com cartoons, livros ou filmes contra ele, os muçulmanos reagem, alguns emocionalmente, outros racionalmente. É claro que tudo tem o seu tempo de reação. Se reagirmos apenas emocionalmente, muitas vezes perdemos razão. Então aqui é importante também reagirmos racionalmente embora a parte emocional esteja sempre connosco. Quando há algum episódio do género, em que alguém tenta difamar antes de reagirmos emocionalmente devemos reagir racionalmente, dizer às pessoas que difamam o bem que ele trouxe à humanidade. Muitas das vezes as pessoas dizem mal por desconhecimento, ainda há muita ignorância sobre o Islão na nossa sociedade. As pessoas associam um pequeno episódio, com uma família, ou numa localidade, ou num filme, ou nos livros, como sendo prática do Islão, o que é falso».

Sheik David Munir deu como exemplo a procissão nesse dia realizada. «Esta marcha foi uma coisa pacífica e calma, foi o demonstrar o amor, a simpatia e a aproximação que nós temos com aquela pessoa que nos deu a Luz, que retirou as pessoas da escuridão, trouxe igualdade, trouxe justiça, deu vida às mulheres. Quando vimos em algumas sociedades e alguns países onde não há respeito pelas muçulmanas isto não quer dizer que o Islão não os deu».

Pelo que foi o profeta Maomé, «Durante todo o mês de janeiro, os muçulmanos realizam várias atividades e palestras e cultos onde se fala da vida do profeta. Todo o ano falamos sobre ele mas o mês em que ele nasceu é um mês muito marcante para todos os muçulmanos».      

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 Educação Islâmica

Gulamo Mahomed, presidente da Associação para a Educação Islâmica de Portugal, explicou-nos que a associação para além da educação religiosa dá aulas de português a alunos do 1º ciclo indo em breve arrancar com obras nas instalações para criar condições de alargamento a outros ciclos.

Para ministrar a educação religiosa a associação tem dois padres, sendo que um deles também vai a casa das crianças quando elas não se podem deslocar à associação ou têm indisponibilidade de horário devido ás aulas do ensino regular. «Nós fazemos questão que eles vão também à escola portuguesa, não queremos que eles venham só aqui, esse não é o nosso princípio», sublinhou Gulamo Mahomed.

Para além da vertente educativa, a associação também tem na sua mesquita as orações diárias que são frequentadas por muitas das cerca de 200 famílias existentes no concelho de Odivelas.

 A Associação Para a Educação Islâmica de Portugal (Darul Ulum Kadria Ashrafia de Odivelas) fundada a 15 de março de 1997 é uma entidade sem fins lucrativos, de carácter religioso, educacional e cultural criada com o intuito de preservar e cultivar os valores da cultura e religião islâmicas, cooperar e colaborar activamente nas comunidades islâmicas do País e contribuir para a defesa de um papel activo do muçulmano em Portugal e nos países de expressão portuguesa.

A missão desta associação, que de forma solidária e responsável, centra-se na promoção de actividades religiosas e sociais no seio da sociedade islâmica em Portugal.

Como local de culto, são realizadas semanal/mensalmente actividades espirituais para os muçulmanos que frequentam as mesquitas em Portugal.

A AEIP tem como objectivos:

– Ser uma instituição actuante e dinâmica, preparada para responder aos desafios do nosso tempo e estar inserida na sociedade;

– Oferecer uma opção de vida islâmica, inspirada nos valores tradicionais sufis e nas orientações de vida do Profeta Muhammad (que a paz e as bênçãos de Deus o acompanhem);

– Servir como instrumento de educação para a realização de atividades religiosas, sociais e culturais no âmbito do plano educativo estabelecido pela instituição.