joaogalhofopequenaEnquanto à Esquerda se oficializaram já candidaturas à Presidência da República, seja o “self-made men” Henrique Neto ou o lírico Sampaio da Nóvoa, o centro direita português tem feito do tema tabu até às legislativas assumindo apenas que o candidato será comum numa lógica de Aliança assumida no dia da Liberdade.

O recado para o eleitorado português será o seguinte: Primeiro, o valor imaterial alcançado não vive em regime de propriedade absoluta mas partilhada por todos aqueles que promoveram ou participaram directa ou indirectamente no dia da Liberdade. É um dia que não tem donos, se o tivesse não celebraria uma democracia.

Quanto à leitura dos discursos fugidios de Telmo Correia e de Marco António em relação ao candidato Presidencial da Coligação, só pode ser uma – não está ainda definido. Caso estivesse, nada melhor que uma dupla boa notícia em dia tão simbólico. Contudo, a Política tem os seus momentos certeiros e o que naquele dia seria óptimo mas tarde tornar-se-ia prejudicial à estratégia oculta de apoio aos candidatos.

Desvendado mais um pouco, Marco António que subiu a pulso no Partido está muito empenhado em conseguir que a Direcção do PSD apoie Rui Rio à Presidência da República. A razão é simples, se Rio avançar para Belém como o apoio da Coligação deixa de independentemente dos resultados eleitorais das legislativas poder ser candidato à liderança do PSD, lugar esse que ocuparia naturalmente numa lógica de sucessão de ruptura de Passos Coelho. É um presente tentador, premiando o trabalho e o esforço, mas também envenenado pelo que de pior há na Política, o jogo de bastidores que encosta candidatos na chamada “secretaria”. Outros Vices- presidentes como Carlos Carreiras defendem Marcelo Rebelo de Sousa.

O proto-candidato não assume a candidatura mas nunca a desmente publicamente, seja quando Cavaco traça o perfil Presidencial obrigatória ao estilo dinástico, seja nas presenças intencionais nas comemorações do aniversário do Partido sempre a jeito de convite, ou mesmo quando critica as intervenções de Cavaco Silva de auto- limitação dos poderes presidenciais de nomeação do próximo Governo apenas com maioria absoluta. Tenho como certo que Marcelo condicionará o mais possível todos os candidatos a fim de afunilar a trajectória do candidato da Direita ao seu encalce.

Conseguiu estrategicamente fazer crer a Santana Lopes que o momento certo para falar de Presidenciais seria sempre depois das legislativas, pela importância maior destas últimas face às primeiras sobretudo porque o resultado alterará o apoio do Partido aos candidatos. Marcelo não pode ter a certeza disto mas já convenceu Santana. De facto, em Política tudo o que parece é, se não for já será mais tarde. Neste sentido, Durão Barroso que não se envolveu em nenhum momento nas comemorações do Partido surgiu surpreendentemente no seu encerramento. Viu a sua actuação como Presidente da Comissão Europeia ser louvada por Passos, encaixa à medida no perfil de experiência de diplomacia internacional económica de Cavaco. Fora estes apenas Assunção Esteves foi elogiada, por puro institucionalismo de funções, mas está claramente arredada da corrida mais facilmente apoiariam Mota Amaral.

Posto isto, o candidato Presidencial do centro direita será Rui Rio ou Marcelo.

O voto decisivo nesta matéria bem poderá estar nas mãos do líder do CDS, Paulo Portas. Digo no líder e não na Direcção centrista porque também aí os apoios estão dispersos, Pires de Lima e Nuno Magalhães preferem Marcelo, já o regionalista Nuno Melo prefere Rio. Assunção Cristas e Mota Soares são ainda uma incógnita nesta matéria mas acredito estarem mais próximos de Marcelo do que Rio.

Na verdade, a decisão será entre um perfil autoritário e um cosmopolita, de um contabilista e um afectivo, entre a sobriedade e um produto de massas, em última análise de um redutor artístico face à crise financeira e de um impulsionador da cultura visto a qualidade criativa nacional. Dois mundos de diferença: um só candidato será apoiado pela Coligação. Marcelo terá aqui a sua derradeira oportunidade, Rio terá também a derradeira oportunidade de se tornar líder do PSD ao não se candidatar independentemente do apoio da Coligação. É caso para dizer que a estratégia partidária bem pode suplantar o perfil presidencial dos candidatos.

A opinião publicada prefere Rio para a liderança do Partido e como candidato a chefe de um Executivo. Falta saber se prevalecerá os nervos de aço de Rio ou o silêncio de ouro de Marcelo.

João Pedro Galhofo