Em meia dúzia de horas, as chamas de um incêndio cujas origens ainda permanecem na escuridão, destruir anos de trabalho de uma comunidade que aposta na entreajuda e no trabalho dos seus voluntários para apoiar causas e pessoas. Foi na madrugada de quarta-feira, 16 de julho, que os sonhos da Comunidade Emaús de Caneças sofreram um forte revês. Resta agora muito trabalho e esperar por apoios, locais, nacionais e internacionais para voltar a poder sorrir.

Segundo o comandante dos Bombeiros Voluntários de Caneças, Manuel Varela, seriam 03h30 da madrugada quando a sua Central recebeu a comunicação da existência deste incêndio. Os primeiros bombeiros a chegar ao local constaram a grandeza do sinistro e de imediato foram pedidos reforços às corporações vizinhas, tendo estado envolvidos nesta operação de combate, dirigida por Manuel Varela, 40 bombeiros e 16 viaturas. Participaram ainda 1 viatura da PSP com dois agentes e 1 viatura e um homem do Serviço Municipal de Proteção Civil de Odivelas. O fogo foi considerado dominado cerca das 05h30 só foi dado como extinto às 09h40.
A principal fonte de rendimento desta comunidade é a recolha e recuperação de bens, feita pelos próprios voluntários e companheiros da Emaús Caneças. Ao destruir três armazéns com muitos bens a recuperar e muitos já recuperados e prontos para entrega aos vários clientes da comunidade, o fogo destruiu também parte da capacidade de sobrevivência desta comunidade, provocando prejuízos na ordem dos 150 mil euros, segundo Humberto, um dos responsáveis pela instituição.
Humberto descreve assim o que aconteceu: «Eram três da manhã quando um companheiro se apercebeu que “a menina dos olhos” da Comunidade estava a arder. Desapareceu tudo no incêndio, máquinas, produtos, móveis, tecidos para estofar, etc… Não resta senão um monte de cinzas, entulho e ferros empenados. À luz fria do dia, parece que andou um gigante a brincar com as vigas e ferros».
Durante muitos anos, o restauro tem sido o setor emblemático da comunidade, «O sítio onde os “cacos” se transformam, nas mãos dos Companheiros, em pequenos “bijoux” muitas vezes elogiados, o sítio onde os próprios companheiros se restauravam, passando de párias da sociedade a criadores de riqueza e de Partilha. É o sector que em grande medida nos tem permitido acolher os companheiros, fazer o nosso papel social, apoiar projectos dentro e fora de Portugal, pagar as obras de restauro da Comunidade sem recorrer a qualquer subsídio. Caiu por terra no meio do fumo um dos nossos sonhos, e apesar do calor exterior, algo se gelou em nós».
O responsável adiantou que o seguro está a avaliar a situação e a comunidade já fez «um pedido de urgência» à Emaús Internacional para receber algum apoio.
Para a comunidade Emaús de Caneças «Hoje é dia de luto, mas amanhã levantamos a cabeça e seguimos a mensagem do Abbé Pierre, fundador do Movimento Emaús: Com dinheiro não se fazem homens, mas com homens que se amam consegue-se tudo, mesmo o dinheiro necessário».

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