Perante uma tragédia, seja ela de que tipo for, temos uma exagerada tendência para nos focarmos na vítima e em todos os pormenores que envolvem o acontecido. Normal, pois é precisamente isso que está em foco, contudo esquecemo-nos em grande escala das vítimas indirectas, que não são nada mais nada menos do que os familiares.

Perder alguém nunca é fácil, seja por doença terminal prolongada, acidente, ataque fulminante ou mesmo homicídio. Uma perda sempre é uma perda. E após todo o aparado em torno da vítima, a poeira começa gradualmente a baixar, cada um segue a sua vida, sem pensar mais no assunto. E é precisamente aí que sobram os que mais sofrem, os familiares. A vítima pode ter sofrido muito ou não, mas a verdade é que o seu sofrimento findou. Os que permanecem é que têm que aprender a lidar com a perda. E lidar com a perda é enfrentar o luto.

Numa primeira instância é importante que o indivíduo reconheça que perdeu o ente querido, a dor que sente e inicie o processo de luto.  Por norma, o luto tem cinco fases. A negação, em que não nos é fácil acreditar que perdemos determinada pessoa e parece tudo irreal; a raiva onde surgem os questionamentos e a revolta; a negociação, em que procuramos desesperadamente respostas; a depressão no momento em que tomamos verdadeira consciência de que aquela pessoa padeceu; e por fim a aceitação.

Nem todos os indivíduos conseguem atravessar este caminho sem auxilio, no caso especifico dos idosos e das crianças, por serem dois grupos vulneráveis, é importante que haja acompanhamento ou uma atenção especial. A título de exemplo, a dor do luto pode-se tornar tão intensa que alguns idosos veem o seu estado de saúde agravado sem sequer tomarem consciência disso, pois a dor que sentem é bem maior. Nesses casos é importante haver alguém que controle o seu estado de saúde e em casos em que o idoso resida sozinho alertar mesmo as autoridades, como os bombeiros. No caso dos mais novos, é essencial o diálogo e a explicação do sucedido, estar disponível para todos os questionamentos. O estado de alerta para mudanças de comportamento e saúde também é imperativo. Crianças que permaneçam demasiado caladas podem ser um factor de alerta, sobretudo quando não é comum no seu comportamento. Se para os adultos enfrentar a morte é algo difícil de digerir imaginemos para um idoso que parte do principio de que irá primeiro embora deste mundo ou para uma criança que nem sabe as implicações disso.

Não podemos esquecer que uma morte traz consequências a vários níveis e que as famílias sofrem em dobro ou triplo.