Nos velhos tempos em que costumava dar umas voltas pelo Rossio, adorava ouvir os pregões dos ardinas, anunciando os títulos dos matutinos e vespertinos e, especialmente, os dos cauteleiros que gritavam a plenos pulmões: «Há horas felizes!». Na segunda-feira alterou-se o pregão e toda a gente foi unânime na afirmação de que «Há dias felizes». Bom, se tanto senhor doutor como a senhora mestrada acharam que o dia era feliz quem é o Zé, simples contrabandista reformado, para pensar o contrário? Portanto o Finório entrou no espírito da coisa e também está feliz. E, o sol que me entra pela janela ajuda a consumar essa felicidade.

Ah, falta explicar o motivo da felicidade do dia, não é? OK, o Zé explica.

Em 19 de Novembro de 1998 era criado o concelho de Odivelas cortando-se o cordão umbilical (se calhar esta expressão não caberia aqui mas que querem o Zé de quando em vez tem uns lapsus linguae) com o concelho de Loures. Na altura, os comunistas que por lá mandavam não acharam grande piada à ideia e as partilhas deram uma guerra desgraçada e ficaram incompletas. É verdade, no que tocou aos Serviços Municipalizados de Água e Saneamento ficou tudo na mesma e cá os Odivelenses ficaram dependentes dos Lourenses para ter água na torneira (com muitas e muitas falhas) para tratar o xixi e cocó, chiquerrimamente apelidados de águas residuais, e para recolher o lixo (que não poucas vezes ficava amontoado dias e dias).

O senhor presidente de Loures, Demétrio Alves, fez finca-pé e não abriu mão dos SMAS. Seguiu-se o saudoso Adão Barata que também não deu abébias a Odivelas. Caiu a CDU e o PS chegou à cadeira do poder saloio. PS em Loures e PS em Odivelas. «É desta que a coisa se resolve» respiraram de alívio os munícipes da marmelada branca. Oh eras… O senhor engenheiro Carlos Teixeira não estava para ai virado. Se calhar precisava dos SMAS para mais uns empregozitos para a prima, a prima da prima, a filha da prima da prima, etc. Os motivos o Zé não sabe mas o que sabe é que durante três mandatos o senhor engenheiro mandou na Câmara e nos SMAS de Loures.

Em Outubro de 2013 o senhor engenheiro não se pode recandidatar e o senhor João Nunes, que também deve ser doutor mas cá Zé não sabe e portantos assim não o apelida, encabeçou a lista, depois de umas facadas dadas, não sabemos por quem, a João Pedro Domingues, que era o número dois do senhor engenheiro e, esperava-se, o seu sucessor natural. As coisas correram mal, o rosa escureceu e virou vermelho, ainda que disfarçado de azul , o PS tombou e o doutor Bernardino Soares subiu à cadeira do poder.

«Estamos lixados» pensaram logo alguns Odivelenses. Agora é que nunca mais tocamos na xinxa e não mandamos mesmo nos SMAS, com o regresso dos comunistas a Loures. Claro a malta ainda se lembrava de Demétrio Alves. Estavam redondamente enganados…

O senhor doutor Bernardino Soares não perdeu a oportunidade de dar uma grande estalada sem mão aos socialistas e em menos de meio ano negociou e acordou a constituição dos SIMAS, que é como quem diz, dos Serviços Intermunicipalizados de Água e Saneamento de Loures e Odivelas. Ora toma lá. Aquilo que os seus antecessores não quiseram fazer em muitos e muitos anos, fez o doutor Bernardino em seis meses.

Bom cá o Zé acredita que o mérito não é todo o doutor Lourense. A mestrada presidente Odivelense também terá os seus méritos… Aliás vai poder gritar aos sete ventos, e mais um, que ficou demonstrado que a culpa nunca foi sua e que o mau da fita era mesmo o senhor engenheiro Teixeira. E convenhamos, se calhar até é verdade.

E para que a nossa presidente pudesse brilhar mais o acordo foi assinado onde? Em Odivelas claro que o doutor Bernardino é comunista mas nem por isso deixou de ser cavalheiro e deu primazia à senhora. E pá nunca vi o Salão Nobre com tanta nobreza, se se pode chamar assim aos senhores políticos. Quase todos os vereadores de Odivelas, (apenas Fernanda Franchi não pôs lá os pés), quase todos os vereadores de Loures (apenas faltou Sónia Paixão), os dois presidentes das assembleias municipais, presidentes de juntas de Odivelas e Loures. Os da banda de lá não conheço mas da nossa banda sei que faltou a doutora Corália, da Pontinha/Famões e o senhor Ilídio, de Ramada/Caneças mas esse o Zé desculpa porque estava nos Açores e o seu substituto legal, Armindo Fernandes, disse presente.

E, vejam bem o impacto da coisa que até o cronista mais famoso do reino da marmelada, este que se assina José Maria Finório, dedicou uma das suas preciosas crónicas, inteirinha, a este acontecimento. Sim senhor… É obra!

E prontos, está mesmo na hora da despedida, por ora, porque o Zé volta para a semana, ou não!

Gambuzino ao saco… Gambuzino ao saco!