Após as rentrées políticas em ano eleitoral, assistimos a um conjunto de debates que colocou frente a frente os líderes do PSD e do PS bem como do CDS e do BE. Faremos uma nota breve sobre cada um deles, destacando os pontos fortes e fracos da postura pública de cada líder.

Sobre o debate televisivo que opôs Passos e Costa, o primeiro dos dois agendados entre ambos, devo começar por referir que as estratégias dos dois candidatos a PM foram antagónicas. Passos como político sensato e institucionalista começou à defesa aguardando pelo poder de fogo do seu oponente e acabou encostado às cordas do ringue televisivo. Por seu turno, Costa foi aguerrido, combativo e acutilante nas críticas que fez aos quatro anos de legislatura. Nunca havia sido tão duro e altivo nos seus comentários ao Governo da maioria. Da perspectiva meramente televisiva, entenda-se daquela que dá audiências aos canais, Costa venceu claramente o debate. Pelo contrário, quem esteve mais atento ao debate percebeu que a argumentação de Costa foi menos sólida, mais incoerente e mais difícil de justificar face às promessas eleitorais que a de Passos. Costa ganhou de facto mas por maioria relativíssima.

O debate entre Portas e Catarina Martins foi tal como se previa desigual na igualdade de armas. Portas é líder ininterruptamente há oito anos do CDS, tem uma vasta experiência governativa e já formou duas alianças partidárias (uma pós e a actual pré- eleitoral), já Catarina Martins é porta- voz do BE há apenas três anos, tendo sido apenas deputada da AR. Ainda assim Catarina Martins teimou em tentar um debate de gigantes, de igual para igual numa clara repetição do episódio David contra Golias. Acabou por ser a maior surpresa dos debates televisivos, graças à sua frontalidade no ataque, à sua simpatia fotogénica e devido ao facto essencial de só ganhar em aparecer com um brilho especial fora do espaço parlamentar. Foi a maior revelação dos debates televisivos, ainda que não tenha derrubado o Golias Portas. O líder do CDS arrecadou a maioria qualificada da opinião pública quanto à vitória no debate.

Quanto ao inesperado debate entre Portas e Heloísa Apolónia pouco há a dizer se não que se com Catarina Martins se assistiu à replicação de um episódio bíblico, com Apolónia assistiu-se à história entre Sansão e Dalila. Apolónia em representação de uma Coligação criticou Portas estar em representação de outra. A ambição de Apolónia tal como Dalila levou-a entregar –se ao poder ainda que criticasse veementemente o facto de CDS ter-se tornado um Partido de poder. Na realidade, Apolónia desejava perceber como Portas, o Sansão, se tornou tão forte enquanto líder político contando apenas com 12% dos votos quando nem Louça com os 5% das últimas legislativas conseguiu apenas ser deputado e acabou por se retirar da liderança.

O último debate da pré- campanha, o radiofónico entre Passos e Costa, foi diametralmente oposto ao primeiro debate. Passos passou de imóvel para ultra- reactivo, do seu habitual institucionalismo em demasia para o comentário crítico assertivo e bloqueador de inverdades que repetidas inúmeras vezes quase se tornavam verdade, como o pagamento integral da dívida da CM Lisboa pela gestão do Executivo Costa quando na realidade foi financiada pelo Governo através da receita da venda dos terrenos do Aeroporto de Lisboa. Foi o mais duro de todos os debates, no qual Passos dominou as ideias na mesa, desta vez com um discurso mais directo, simples e claro. Costa enervou-se mais do que o costume e perdeu o controlo à situação, ao ponto de vir dizer na conferência de imprensa aquilo que não chegou a dizer no debate com a plena certeza de o ter dito no frente a frente com Passos.