Fernando Costa é hoje o Presidente da Comissão Administrativa Provisória do Mega Agrupamento de Escolas de Caneças mas desde 1986 que exerce cargos de direção na Escola Secundária de Caneças. Homem estimado e respeitado por todos na escola, desde o pessoal docente aos alunos e pais pelo trabalho desenvolvido ao longo dos anos foi a figura escolhida para esta homenagem semanal que o Odivelas Notícias quer prestar a todos os que contribuem para o desenvolvimento do concelho.

 

Os primeiros tempos

 

Nasceu em Lisboa em agosto de 1959 e foi na capital que fez o ensino básico e secundário. Na Faculdade de Coimbra formou-se em Biologia e voltou a Lisboa para exercer a profissão da sua paixão: Professor, tendo começado no Liceu D. Leonor em 1982 após o obrigatório estágio e profissionalização. Em 1983 casou e de seguida o Serviço Militar Obrigatório tirou-o dois anos do ensino para servir na Marinha Portuguesa como oficial de marinha. «Foi um momento complicado porque já era casado, mas foi interessante. A vida do mar é interessante, passei a gostar mais do mar depois disso».  

Acabado o tempo militar, em abril de 1986, ingressou no Quadros Escola Secundária de Caneças como professor de Biologia. «Nunca fui pessoa muito tolerante a situações de indisciplina e falta de respeito acabado de vir da disciplina militar ainda menos seria e chegar aqui e apanhar algumas turmas onde reinava um bocado de demasiado à vontade» e que o professor acabou por resolver. Ainda recente a escola era dirigida por uma Comissão Instaladora e foi necessário encontrar alguém para dirigir a escola.

Fernando Costa não sabe se foi a sua postura disciplinada que levou a essa situação mas o que aconteceu foi que a maioria dos seus colegas professores votou o seu nome para diretor da escola. «Um jovem de 26 anos, com três meses de escola. Foi um pouco complicado na altura porque não fazia a mínima ideia do que era a gestão escolar e ainda disse isso aos meus colegas. Vocês estão a apostar numa pessoa que não conhecem» mas os seus argumentos não convenceram e ficou mesmo diretor da escola.

Em 2000/2001 esteve nos Serviços Centrais do Ministério da Educação trabalhar como Coordenador Docente da Área Educativa. «Foi uma experiência interessante mas a minha vocação é mais a escola, o lidar com os colegas, com os alunos. É a área que mais me entusiasma e onde podemos fazer mais coisas».

Ao longo dos anos foi sucessivamente sendo eleito tendo apenas uma vez concorrido com outro professor. «As pessoas vêm confiando no trabalho que vamos desenvolvendo. O trabalho que desenvolvo não depende só de mim, eu sei avaliar isso, é um trabalho de equipa, é preciso haver uma grande sintonia de ideias e de princípios no Conselho Geral que é um órgão composto por vários professores, por funcionários, por pais e por representantes da sociedade civil». As relações com todos os órgãos da escola é excelente e «Todas estas pessoas têm de sentir que são quota parte, que têm um papel em todo este processo».  

Fernando Costa confessou que a sua tarefa tem momentos mais altos e momentos em que as coisas correm menos bem sublinhando que em situações, como a atual com a má conjetura económica podem surgir momentos de grande pressão para redução de custos e gestão dos recursos o mais eficaz possível. «Mas, numa gestão de recursos eficaz não se deve só pensar em termos de dinheiro. Uma gestão eficaz é quando esses recursos são aplicados no sítio certo e nesse sentido é preciso algum cuidado, é preciso pensar muito».

 

O homem e a família

 

A vida de Fernando Costa continua, obviamente fora da escola, na família, nos amigos, nos momentos só seus. É casado e tem uma filha de 21 anos que vai ser médica por escolha própria. «Gosto que ela seja aquilo que ela quiser ser, a felicidade dela é que conta». E, se ela quisesse ser professora?  «Hoje em dia ser professor é uma profissão de alto risco por isso agradou-me que ela tenha escolhido uma via de formação que, à partida, lhe dê garantias de colocação. Como professora isso afligia-me um pouco. Preocupa-me que jovens mulheres com trinta, trinta e um anos se vejam todos os anos à espera de uma colocação, a angústia que vivem, o que isso causa ao próprio bem estar da pessoa».

Homem de família, Fernando Costa reserva o tempo possível para estar com a mulher e a filha. Gosta de viajar sempre que pode. Gostaria de em algumas alturas tirar a escola da cabeça mas não é fácil. «Ao contrário dos outros o verão para mim é a época de mais trabalho com a preparação do novo ano lectivo. Mas quando se estira a escola da cabeça tem de se pensar mesmo que se tira a escola da cabeça e o pouco tempo que há tem de ser de qualidade e bem aproveitado, viajar com a família, estar com os amigos, passear no campo, ir à praia, coisas desse género».

O cinema e o teatro também são da sua preferência e vai sempre que pode. Quanto a leituras «Não sou muito de ler, infelizmente não sou muito de ler. Já leio muitas coisas profissionalmente. Mas, às vezes obrigo-me no verão. Pego num livro e digo, vou ler até ao fim». Anjos e Demónios, de David Brown foi a sua última leitura. Quanto a filmes «A saga do Senhor dos Anéis foi uma coisa que achei piada porque nos transporta para uma realidade que não é nossa e também nos ajuda a esquecer». O filme 1900, de Bernardo Bertolucci, marcou Fernando Costa quando o viu na sua adolescência. A Revolução dos Cravos já tinha acontecido em Portugal e a situação retratada no filme, do fascismo italiano «Marcou-me e fez-me pensar».

 

O Agrupamento de Escolas de Caneças

 

Ao longo de todos estes anos Caneças cresceu, a escola cresceu, os métodos de ensino mudaram, muita coisa mudou. «As coisas vão mudando, sim, e vão evoluindo e é bom que assim seja. Há uma coisa muito positiva em todo este processo e em todo este caminho quer temos vindo a fazer que é a participação dos encarregados de educação na vida da escola e no acompanhamento escolar dos filhos.  

Com a criação do Mega Agrupamento de Escolas de Caneças Fernando Costa assumiu a sua presidência sendo agora responsável, para além da Secundária de Caneças, pela EB 2,3 dos Castanheiros, as três escolas do 1º ciclo da freguesia de Caneças e três Jardins de Infância, com cerca de 2.400 alunos.

O professor não considera que a criação dos Mega Agrupamentos Escolares traga alguns benefícios ao ensino, embora possam trazer alguma diminuição de custos. «Acima de tudo nós temos de respeitar as pessoas. A escola vive muito do bem estar de quem trabalha nela e temos de criar condições para que isso aconteça». Fernando Costa tentou criar uma dinâmica diferente, que está a resultar, misturando os professores das escolas com os mesmos níveis de ensino. «Felizmente tenho tido uma excelente experiência neste novo modelo no que diz respeito à aceitação e à vontade de colaborar, ou seja as pessoas querem fazer parte da solução, não querem arranjar problemas». Na prespetiva do Presidente da CAP «Tem sido o mais enriquecedor deste processo a forma como as pessoas reagiram. Eu acho que as pessoas se sentem bem».

Os três JI existentes no agrupamento não são suficientes para responder à procura e Fernando Costa está, juntamente com a Câmara Municipal de Odivelas à procura de novas soluções. «Nós queremos que quem procura o pré-escolar o possa encontrar aqui em Caneças e não tenha de sair da sua área de residência. Neste momento temos poucos meninos de três anos no pré-escolar. Todos os de quatro e cinco anos que nos procuraram estão cá. Queremos ter condições para ter também os de três. Seu que também existe empenho desta autarquia nesse sentido». Fernando Costa defende que «Temos de oferecer às famílias aquilo que elas precisam. A escola é para isso, a escola pública tem de se preocupar em dar respostas às necessidades dos pais quando metem os filhos na escola e nós temos de ter as condições físicas para que isso seja uma realidade».

Quanto ao pessoal docente e não docente Fernando Costa teceu elogios dizendo que teve muita sorte com o pessoal que encontrou. «Há um esforço de todos no sentido de que as coisas funcionem bem».

Quanto às instalações as da escola Vieira Caldas são fracas, as do Cesário Verde são excelentes e a dos Campos de Caneças é um intermédio entre as duas situações, muito melhor que a Vieira Caldas, não tão boa como a Cesário Verde.

Com a reorganização a Escola dos Castanheiros ficou com o 5º, 6 e 7º ano e a Secundária ficou do 8º ao 12º. «Os mais pequenos ficaram nos Castanheiros os mais velhinhos vieram para aqui. Em termos de funcionamento é mais fácil não ter metade dos anos em cada escola, para além de essa situação acentuar a separação».

Nos últimos tempos a Escola Secundária de Caneças sofreu obras que a transformaram completamente e que dificultaram um pouco o funcionamento da escola que continuou a laborar mesmo com as obras. «Tivemos a escola quase toda nos monoblocos pré-fabricados mas preocupámo-nos sempre em facilitar ao máximo o trabalho da obra para que não parasse». Fernando Costa considera que as coisas correram o melhor possível e que valeu a pena. As condições anteriores eram horríveis, chovia nas salas de aula, faltava eletricidade, havia uma sala ou outra com buracos no chão e estava sempre tudo húmido. Para além da melhoria das condições a nova escola trouxe ainda mais dez salas de aula o que aumenta a sua capacidade de resposta. Apenas um problema acabou por dizer: «A falta de dinheiro fez com que a escola não fosse equipada com o mobiliário necessário».

Os alunos de Caneças não precisam de procurar outras escolas de fora, antes pelo contrário há muitos alunos de fora da freguesia a escolher a Secundária de Caneças «Certamente devido ao bom trabalho que a escola tem feito e isso também nos apraz registar».

Para além do ensino corrente a Secundária de Caneças tem ainda cursos técnico-profissionais. Fernando Costa gostava de ter dado continuidade ao Curso de Apoio à Infância mas a sua abertura não foi autorizada pelo Ministério que considerou haver excesso de oferta. A escola propôs um Curso de Multimédia que também não foi aceite e abriu um Curso de Comunicação, Marketing e Publicidade estando em funcionamento juntamente com o já existente há alguns anos de Técnico de Turismo.

Quanto aos cursos noturnos os Centros de Novas Oportunidades foram encerrados e por isso deixou de funcionar também em Caneças. A escola candidatou-se a um SQEP (Centro de Qualificação e Ensino Profissional), mas ainda não receberam o resultado dessa candidatura. «Nós somos uma escola com longa tradição a nível da oferta dos cursos noturnos e temos tido avaliações muito positivas quer da parte tutela quer da parte de quem cá estuda. Aqui na escola sempre se trabalhou com rigor e exigência e ainda hoje temos relações de amizade e proximidade com muitos ex-alunos». Fernando Costa considera fundamental continuar com os cursos noturnos e com esta formação de adultos que é de facto uma mais-valia.

Para o Presidente da Comissão Administrativa Provisória do Mega Agrupamento de Escola de Caneças «É necessário ter consciência de que o ensino público faz um excelente trabalho. A nossa aproximação e envolvimento com os encarregados de educação para que eles conheçam e acompanhem o nosso trabalho é prova disso. Nós estamos abertos a receber os pais e a perceber as suas preocupações e a encontrar soluções para os problemas. Os pais às vezes não estão habituados a este tipo de tratamento. Nós temos projetos inovadores que fazem com que os alunos e os próprios pais vejam a escola como parte da sua vida. Os miúdos mantêm com os professores, mesmo depois de sair da escola, uma relação de amizade e de respeito e gostam dos professores porque sabem que são boas pessoas e também gostam deles. É este sentimento de comunidade que rema toda para o mesmo lado com o objetivo principal da formação completa do jovem. Eu gosto de ver o sorriso dos miúdos, gosto de sentir que eles têm vontade de fazer as coisas. Eles mexem-se neste espaço como se estivessem em sua casa o que para nós é muito interessante ver e assim é que a escola vai crescendo e nós vamos tendo, felizmente bons resultados e boas avaliações até pelas inspeções do Ministério da Educação».