Caríssimas leitoras e caríssimos leitores, tenho de vos confessar que, ao contrário do que seria expectável, acabei por me tornar um gambuzinodependente e foi com uma enorme ressaca que tive de aguentar quase quinze dias sem este convívio regular com aqueles que, apesar da crise e das avaliações troicanas, ainda vão arranjando pachorra para me aturar lendo estas linhas. Acreditem que já estava farto de férias, de filhoses, rabanadas, sonhos, cabrito, espumante a imitar champanhe e outras tantas coisas que, não percebo bem porquê, a malta não dispensa nesta quadra mas de que nem quer ouvir falar no resto do ano.

 

Portanto, é irradiando da felicidade intrínseca de quem ama o que faz, entre outras coisas, que me agarro ao Tablet  para cronicar gambuzinando… Ou gambuzinar cronicando? Não sei, decidam vocês!

 

Rendi-me completamente às novas tecnologias. Embora ainda há um ano nem soubesse o que isso era, hoje sou um apanhadinho e sempre que a minha Etelvina não está a ver lá vou eu a Internet ver as novidades. E foi numa dessas idas que num site brasileiro vi um anúncio de um Kit Espião com uma série de engenhocas tipo Inspetor Gadget. Não resisti, pedi o número do Cartão de Crédito da Etelvina (que eu cá não tenho dessas coisas) e depois de muitas explicações, mentiras (tive de lhe dizer que era para lhe comprar uma prenda) e avisos de «Cuidado home olha que já ouvi dizer que essa tal de Internet está cheia de vigaros» lá consegui ter o número do cartãozinho que abre as portas do consumo ao mais simples dos mortais.

 

Confesso que já tinha idade para ter juízo mas andei a semana toda á espreitar à janela para ver quando chegava o carteiro para que não entregasse a encomenda à Etelvina não fosse a curiosidade dela leva-la a abrir a encomenda e me descobrisse a careca. E, parecia os meus filhotes, quando eram mais canininhos, sempre à espera do pai Natal ansioso para abrir a embalagem e brincar com o meu Kit Espião.

 

Eh pá aquilo era mesmo fixe. Andei uns dias a experimentar aquilo mas já me apetecia coisas mais sérias e, por isso, na terça-feira à noite, decidi ir até à Ramada, onde na sede da Junta da União das Freguesias de Ramada e Caneças decorria uma Assembleia de Freguesia, com nove pontos na Ordem do Dia, para além do PAOD e do período das intervenções do público.

 

Arrumei o meu Carocha, a quem carinhosamente chamo de Juquinha, em homenagem a Juca Chaves, de quem sou admirador incondicional, em cima do passeio, porque não havia mais lugares, coloquei o meu chapéu à Colombo, pus os meus óculos escuros à 007, peguei no meu Kit Espião e posicionei o microfone direccional super amplificado para poder ouvir o que ia acontecendo lá na assembleia. Cinco estrelas, afinal os brasucas não me enganaram e aquilo era mesmo bom. Até dava para ouvir os sussurros da malta dos aparelhos partidários que acabam por ser o único público destas reuniões que até têm um período destinado ao público mas que o público raramente usa, como foi o que aconteceu nessa noite. É verdade nenhum freguês abriu bico. Bom se calhar não estava lá nenhum freguês… Devia ser como na tasca do Arnaldo, onde segundo a Ernestina, o negócio está fraco porque a crise afugentou a freguesia.

 

Tenho de dar mesmo por bem empregue o dinheiro gasto no Kit Espião. Nunca me diverti tanto na vida como a ouvir aquela assembleia. Ao ouvir as intervenções da bancada da rosinha lembrei-me, não sei bem porquê, de um filme que vi com o meu filhote há uns anos que era A Fuga das Galinhas ou daquelas lutas de Galos da Índia que se faziam no meu bairro antigamente. É pá será que aquilo tudo era raiva de dentes ou apenas necessidade de intervenção. Miguel Ramos e Susana Guerreiro não perderam uma oportunidade para colocar grãozinhos na engrenagem e chatear o Rambo da Ramada e seus muchachos e muchachas, com o senhor engenheiro sistematicamente a fazer comparações com o tempo da outra senhora, ou seja, quando Caneças ainda não estava em união de facto com a Ramada.

 

Mal a sessão teve início e logo os rosinhas abriram fogo serrado. Susana Santos queria saber porque é que os eleitos não tinham ainda seguro e que se houvesse algum acidente, quem pagava. O senhor presidente Ilídio explicou os motivos e disse que a junta assumia se houvesse acidente. Ele explicou mas a candidata derrotada… Complicou. Ainda o fumo da pólvora do primeiro tiro não se tinha dissipado e já Miguel Ramos mandava mais um tirinho: «Esta reunião é ordinária ou extraordinária?» Prontos mais uma ganda discussão onde ninguém se entendia e todos queriam ter razão. E assim se foi escoando o tempo do pagode. Achei piada que a bancada do PS, em termos de intervenções, se resumisse a Miguel Ramos e Susana Santos. Apenas um Bruno Duarte fez uma perguntinha e os outros nada disseram. Ah, por falar em Bruno, a senha de presença dele ainda o dava como vogal da junta, cargo que não exerce neste mandato. Desculpa-se… Com esta união as coisas ficaram confusas.

 

Todas as bancadas partidárias têm um líder de bancada. Minto, todas não, porque parece que a do PS na Ramada tem dois. É verdade. Por causa da questão do carácter ordinário ou extraordinário da reunião o PS pediu intervalo para reunião dos líderes. Da CDU, do PSD e do BE foi um à reunião. Do PS foram dois. Eh pá não me digam que a moda da liderança bicéfala do BE já tem seguidores.

 

Não vou conseguir dar conta de todas as coisas desta reunião porque, como disse um eleito da CDU ao único jornalista presente, «É pá hoje são três ou quatro sacos bem cheiinhos». E não é que acertou?

 

E assim, vou ter de fazer como a própria assembleia, que não despachou a Ordem do Dias toda e deixar algumas gambuzinadelas para outras alturas.

 

Então, adeus e até para a semana… Ou não.

 

E agora vamos aos gambuzinos.

 

Gambuzino ao saco… Gambuzino ao saco.