E pronto, estamos a chegar àquele dia em que se esquecem todas as desavenças familiares, profissionais ou outras, para todos sermos muito bonzinhos e deixar que a paz entre dentro de nós como homens de boa vontade. Assim podem explicar a este simples cronista como se pode escrever uma crónica como esta a menos de uma semana da véspera de Natal?

É complicado… Muito complicado!

Mas como o meu contrato com o jornal reza de forma clara que tenho de cronicar todas as semanas, seja ou não Natal, cá vamos então cronicar e, como estamos no Natal, permitam-me dizer: «E seja o que Deus quiser».

 

Já vos tinha dito que por vezes tenho tiques de repartição pública e sou um poucochinho lerdo a dar despacho ao expediente. É verdade. Ninguém é perfeito e eu como sou alguém também tinha de ter as minhas imperfeições.

Reportemo-nos então ao dia 19 de novembro em que o Concelho de Odivelas celebrou os seus 15 aninhos de existência.

 

Já vos falei da bonita cerimónia ocorrida no auditório do Centro Cultural Malaposta. Mas as minhas notas eram soltas e, portantos, uma lá se perdeu e só agora dei com ela, imaginem, dentro de uma caixa térmica, no congelador do meu combinado velhinho mas que ainda funciona. Mas porque raio havia eu de congelar esta informação? Sinceramente não sei mas sei que esta cabecinha de 76 anos já não é o que era e por isso, de quando em vez, tenho destes episódios.

 

Que querem, quem usou muito a cabeça ao longo dos anos é natural que tenha gasto um cadinho os neurónios. Ou não é? Por vezes até me esqueço de umas certas obrigações que tenho com a minha Etelvina. O que vale é que ela também anda um bocado esquecida e por isso não se lembra de cobrar essas obrigações. A vida é muito complicada senhores, oh lá se é!

 

Já perceberam que estou a arrastar o texto, não perceberam? Que querem é Natal!

 

Sim eu sei que a vossa compreensão e paciência tem limites e por isso não enrolo mais e passo já aos factos:

O Senhor Doutor Manuel Varges, que depois da reforma se especializou em Direito Canónico e tem produzido algumas anulações de casamentos religiosos, foi o primeiro presidente do município de Odivelas, quer por nomeação para a Comissão Instaladora quer por eleição para o primeiro executivo da câmara. Poder-se-á não gostar do Manuel Varges, enquanto pessoa, homem ou cidadão, mas não poderemos esquecer o peso e a importância institucional do primeiro presidente. Mas, parece que há por cá pessoas que se esquecem, ou se fazem esquecidas…

 

Na Sessão Solene havia um protocolo rigoroso. Todos os lugares estavam previamente marcados. Percebe-se e concorda-se. Mas porque raio todos os autarcas estavam nas primeiras filas e o doutor Manuel Varges foi relegado para a quarta fila ao lado de convidados das várias instituições. Só por esse facto sabemos que Manuel Varges tremeu, mas aguentou. Sei que não terá sido fácil ouvir as bocas e os dichotes que foram surgindo sobre a matéria, mas Manuel Varges aguentou, embora possivelmente com alguma resistência já abalada. Quando Miguel Cabrita, presidente da Assembleia Municipal discursa e saúda toda a gente, esquecendo-se de dele, a vontade ainda ficou mais abalada. Mas, quando a presidente Susana Amador saúda o presidente de Loures, Bernardino Soares e ignora o seu primeiro presidente, Manuel Varges não aguenta mais. Sim, que um homem não é de ferro. Por isso, mesmo com a presidente no uso da palavra, levanta-se ostensivamente e abandona a sala. «Quem não se sente não é filho de boa gente», diz a sabedoria popular. Não conheço as origens do doutor mas a verdade é que ele se sentiu, e pelos vistos muito.

Já fora da sala o doutor encontrou a responsável pelo protocolo e disse-lhe das boas. Bom, meus senhores, a coisa incendiou de tal maneira que segundo contaram ao Zé a senhora mestrada presidenta até teve de pedir ao senhor presidente da CPCO para fazer de bombeiro voluntário e ir apagar aquele fogo antes que alguém saísse chamuscado.

 

O Zé sabe que a crise afeta a todos. Ou melhor o Zé sente diariamente o peso desta crise, tendo de cortar despesas e mais despesas. Qualquer dia até se calhar tenho de deixar de beber a biquita, que adoro. E é por saber isso que valorizo ainda mais aqueles que não fecham os olhos, não enterram a cabeça na areia e olham para os seus semelhantes interrogando-se sobre o que podem fazer para ajudar.

 

Não sei se Odivelas é terra de oportunidades, como se grita por aí. Não sei se Odivelas é boa para viver, estudar ou investir como também berram os outdoors por tudo quanto é sítio. Mas sei que Odivelas é solidária, muito solidária.

 

E, para aqueles que possam ter dúvidas desta afirmação ponham os vossos olhos incrédulos apenas no passado fim-de-semana: Pais Natal Solidários, Pais Natal Motards, Almoço Solidário do Instituto de Odivelas, Festa de Natal do MOC, Jogo de Airsoft para ajudar uma pessoa com cancro e mais todos os eventos e iniciativas que agora não me alembra mas que se realizaram.

Tenho de dar um grande abraço a quem for de abraço e um grande beijinho, a quem for de beijinho, a todas as pessoas e instituições que deram o seu trabalho, bem como a todos os que contribuíram com bens, para que o Natal pudesse ser mais risonho para aqueles que ao longo do ano não têm grandes motivos para sorrir.

 

Já desabafei, agora vou-me embora, não escrevo mais hoje. Volto para a semana, ou não.

 

Gambuzinos… Preparem-se que o Zé está ao ataque que para a semana já não é Natal.

 

Gambuzino ao saco… Gambuzino ao saco…