A saudade. Por vezes quando viramos a página, seja ela qual for, vem aquela sensação de saudade. Aquele aperto, que não sabemos descrever.

A saudade é um dos sentimentos mais complexos de explicar e até mesmo de se entender. Podemos sentir saudades de variadas coisas, do cheiro a maresia, da nossa infância, de uma tarde de verão bem passada, de bons momentos em família, de um bom livro, de comer algo, ou de alguém especial. É um sentimento abrangente, ambíguo, por vezes tranquilizante ou angustiante.

A saudade pode ser algo sufocante que aperta o coração, nos diminui a alma, e nos rasga por dentro, até os nossos olhos verterem água. Ou pode trazer aquela sensação de paz, que nos delicia por simplesmente termos tido a sorte de ter vivido/experienciado tal coisa que nos traz saudade.

A saudade não pode ser explicada até ser sentida.

Existe sempre algo que nos remete para a saudade. Ninguém pode simplesmente afirmar que não tem saudades de nada, a menos que seja desprovido de sentimentos ou ligações afetivas. A saudade é um sentimento tão saudável como destrutivo. É saudável sentir saudades dos tempos de escola mas é destrutivo ficar obcecado pelas saudades que sentimos por alguém. É portanto um sentimento bastante intenso capaz de marcar a diferença entre aquilo que somos e o que seremos. Através da saudade podemos dizer “olá” como podemos dizer “adeus”. A tal ambiguidade supracitada, a barreira entre o recordar e o obstinar.

Normalmente quando o “ano velho” passa, e perdemos escassos minutos a recordar cronologicamente o que passou, sempre bate a saudade. Ela está presente para nos lembrar de onde viemos, quem somos, quem esteve ao nosso lado, o que fizemos, é a parte emocional da nossa história. A racional fica a cargo do destino, ou de Deus, ou do que quer que seja em que acreditemos. A saudade é como um sininho discreto dentro do peito que toca suavemente para nos lembrar de algo especial que é nosso, e de mais ninguém. É certo que a saudade é um sentimento universal, não traduzido porém em todas as línguas, mas cada um sente as suas saudades. É um sentimento não partilhado, pois só cada um sabe aquilo que deveras sente.

Ter saudades de algo significa antes de tudo ser portador de um dos sentimentos mais puros e profundos. É sinónimo de vida.