Inaugurado em outubro de 2010, o Centro Oficial de Recolha Animal do Concelho de Odivelas (CORACO) denominado de Parque dos Bichos tem um filosofia diferente do comum no país promovendo o bem-estar dos animais alojados e a sua adoção responsável, bem como a mudança de mentalidades no que respeita aos cuidados dos animais de companhia.

Na Paiã, num local discreto, o Parque dos Bichos dispõe de 18 boxes normais para alojamento de cães, 3 boxes para quarentena e 3 boxes destinadas a sequestro sanitário, não dispondo de valência de Gatil. Esta semana a reportagem do Odivelas Notícias foi visitar este equipamento municipal na companhia do vereador Carlos Bodião e da médica veterinária municipal, Maria João Nabais.

Uma política diferente

Infelizmente é prática comum em Portugal o abandono de animais, especialmente cães e os canis municipais têm grande dificuldade em dar resposta a todos os pedidos e assim acontece também em Odivelas, situação ainda mais complicada porque no Parque dos Bichos, ao contrário da maioria dos canis municipais, a eutanásia só é utilizada em último recurso, ou sejas nas situações em que o animal está muito doente e em sofrimento, sem possibilidade de recuperação ou se for demasiado perigoso para ser adotado. A postura do Parque dos Bichos é sempre de preparar o animal para a adoção e tudo fazer para lhe encontrar um novo dono, segundo nos explicou a médica veterinária municipal.
Como a capacidade de acolhimento não é muito grande e muitos dos animais que são recolhidos precisam de vários dias para recuperar de traumas ou doenças, a entrada de animais é minuciosamente gerida sendo dada prioridade a animais doentes, perigosos, cadelas grávidas ou recém-paridas e cachorros. Não há períodos pré-definidos para a permanência dos cães no Parque dos Bichos sendo todos os casos analisados individualmente.
O Parque dos Bichos não recebe animais com dono, uma vez que a competência de um canil municipal é acolher e ajudar cães errantes. Sempre que um detentor pretende entregar o seu animal, é informado dos meios disponíveis para promover a divulgação deste e encontrar-lhe um novo dono.
Maria João Nabais acredita que «Um canil deverá ser apenas um alojamento de passagem até que os animais encontrem um lar à sua medida. Para isso é necessário conseguir donos responsáveis para todos eles, uma tarefa cada vez mais complicada devido à instabilidade económica do país».
As campanhas de adoção são feitas ao longo do ano em ações de sensibilização, eventos, anúncios colocados em páginas do Facebook existentes para o efeito e através da página do Facebook do Parque dos Bichos. Além disso, é um local aberto ao público sem restrições ou marcações. A cirurgia de esterilização é efetuada a todos os animais adotados no Parque de forma gratuita.
Carlos Bodião, vereador da Câmara Municipal responsável pelo Gabinete do Médico Veterinário Municipal e pelo Parque dos Bichos, explicou à nossa reportagem que «A política de animais no concelho de Odivelas nem sempre foi a mesma. Quando eu tomei conta desta estrutura a política não era esta, a política era de abater os animais e foi preciso mudar o paradigma de saúde animal do concelho de Odivelas e depois convencer uma pessoa que estava formatada para implementar essa política». Segundo o vereador nem todas as pessoas estão sensibilizadas para esta política animal. «Nos outros concelhos não é assim. Há concelhos aqui à nossa volta onde a política é pura e simplesmente eutanasiar. Foi possível mudar de paradigma porque eu tenho uma sensibilidade diferente para os animais e convenci a Dr.ª Maria João, que era médica veterinária mas não era a responsável por esta estrutura a aceitar missão, “juntando a fome com a vontade de comer”. A atual médica veterinária municipal tem uma postura diferente do anterior veterinário. Esta política não foi imposta à Dr.ª. Maria João foi apenas permitido que ela a adotasse, porque é sensível. Dentro dos médicos veterinários há uns que são sensíveis à implementação de uma política, do que outros».
O vereador disse ainda que «Sem o apoio da senhora presidente da Câmara, Dr.ª Susana Amador, também não tinha sido possível alterar a política animal do concelho. É uma pessoa muito sensível para os animais, que gosta de animais e que quando esteve na Assembleia da República foi responsável por legislação sobre animais». Carlos Bodião referiu ainda o vereador Paulo César, «Que também gosta de animais, tanto como eu e que vem muitas vezes ao Parque dos Bichos e teve responsabilidades na sua construção».
Defendendo que esta política é inovadora, Maria João Nabais reconhece que também é «Controversa, polémica e ainda tem muita resistência por parte dois meus colegas veterinários municipais. Há alguns animais que estão aqui meses a fio e há quem contraponha que há tantos animais na rua abandonados. Nós pensamos ao contrário, pensamos é que é preciso mudar as mentalidades e de fazer campanhas de sensibilização para que essas mentalidades mudem. A eutanásia por si não resolver a situação. Se as pessoas entenderem que a nossa estrutura, apesar de municipal, o que promove é o bem-estar animal podem questionar-se se não será melhor tentar arranjar outro dono em vez de abandonar o animal».
A médica veterinária municipal considera que as pessoas não podem ser desresponsabilizadas. «A Câmara Municipal não se pode substituir a um particular». Mas esta política ainda não é muito bem aceite pelos médicos veterinários municipais. «Eu sou um bocadinho uma extraterrestre. Sou médica veterinária municipal deste 2010 e nessa altura uma simples alínea do nosso regulamento causou uma celeuma brutal. Nós não aceitamos entregas de animais. Somos dos poucos canis municipais com esta postura. No Parque dos Bichos os animais não estão amontoados, está um cão por boxe o que torna difícil a gestão do espaço. Depois porque o facto de uma pessoa me vir entregar um animal o que está a fazer é desresponsabilizar-se sobre um animal que é seu. Um animal não é um peluche que hoje se quer e amanhã se deita fora». Maria João Nabais reconhece que por vezes paga o justo pelo pecador e pode acontecer uma pessoa encontrar um animal abandonado e vir trazê-lo ao canil. Nesses casos o Parque dos Bichos tenta encaminhar a pessoa para a promoção da adoção com muitos casos de sucesso.
Apesar de as boxes terem todas as condições, pelo menos dia sim, dia não os tratadores passeiam os cães pelo recinto do parque para que eles não estejam sempre presos e também porque estes passeios permitem habituar os cães à trela e promover a sua socialização o que facilita em casos de adoção. «Aqueles animais que sempre viveram na rua não sabem andar de trela e é importante que nós os ensinemos para eles poderem ir com o novo dono».
O Parque dos Bichos não é um sítio fechado e qualquer pessoa pode visitá-lo, conviver com os animais recolhidos e até se ir habituando a eles na perspetiva de uma futura adopção.

Dia-a-dia da Médica Veterinária Municipal

O dia-a-dia da médica veterinária municipal é de grande atividade. Na segunda-feira, por volta das 10h00 da manhã, quando conversámos com Maria João Nabais já a veterinárias tinha feito um tratamento a um cão, a esterilização de uma cadela e uma adoção (com a respetiva vacina e implantação de micro chip). Logo a seguir à conversa uma outra adoção e para a tarde mais uma cirurgia a uma cadela, e mais os imprevistos que sempre surgem nesta atividade.
Para uma pessoa que gosta de animais não será certamente fácil lidar diariamente com os dramas dos animais abandonados e maltratados mas «Com os anos vamos ganhando uma carapaça. Eu já levo 23 anos de contacto diário com esta realidade e há 15 anos que estou no Gabinete do Médico Veterinário Municipal e vamos ganhando um certo estofo porque de outra forma não aguentaríamos. Mas, mesmo assim, por vezes é emocionalmente muito complicado».
Embora a filosofia do Parque dos Bichos seja a promoção da adoção e não o abate dos animais, há situações em que é necessário recorrer à eutanásia. «Há casos dramáticos em que temos de resolver na hora mas felizmente não são tão frequentes como se poderia pensar e há outros que temos de ponderar muito bem que são aqueles animais que não se deixam sociabilizar. Ainda há pouco tempo fiz eutanásia numa cadela que já cá estava há quase quatro meses e que não dava a mão a ninguém, nem aos tratadores, não havendo qualquer possibilidade de adopção. Foi uma cadela que possivelmente nasceu na rua e sempre viveu na rua não tendo qualquer experiência com as pessoas. Não sabia como lidar com pessoas». Segundo Maria João Nabais desde que o Parque dos Bichos foi criado já aconteceu meia dúzia de vezes os animais terem de ser eutanasiados por impossibilidade de adoção dada a sua agressividade.
Na área da sociabilização dos cães recolhidos o Parque dos Bichos estabeleceu recentemente uma parceria com uma associação que atua trabalha nesse sentido «E que nos vai ajudar muito. Penso que era a única coisa que nos faltava porque no resto penso que estamos até muito à frente daquilo que se faz em Portugal».
Não tendo condições para a recolha de gatos o Parque do Bichos promove um Programa de Esterilização de Gatos Errantes, com a colaboração dos munícipes na recolha e recuperação dos animais operados e posterior recolocação no respetivo habitat.
A médica veterinária municipal reconhece que o abandono ou a tentativa de entrega de animais tem, de facto, aumentado. A crescente emigração, mudanças para residências menores ou desemprego são alguns dos motivos indicados pelos detentores. E acredita que o flagelo do abandono poderá diminuir se os munícipes denunciarem as situações de abandono e maus tratos às autoridades competentes (PSP/SEPNA/câmaras municipais) para que os responsáveis sejam penalizados. No entender de Maria João Nabais a legislação deveria ser mais rígida e os meios de fiscalização mais eficazes e céleres, de forma a acompanhar a realidade do país.
Desde a abertura do Parque dos Bichos em 2010 e até ao final de 2013 a média de animais recolhidos por ano é de 173, a média de adotados é de 138 e de eutanasiados 13.

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