Foi há 16 anos que surgiu na Escola Secundária da Ramada o GTAAR, grupo de teatro impulsionado pela professora Maria do Céu Cardoso, que hoje, mesmo aposentada e sem dar aulas na escola continua a caminhar para a Ramada para dirigir este grupo que todos os anos leva aos palcos três peças. 2014 não é exceção e só nos Encontros com o Teatro, em Caneças, o GTAAR apresenta duas peças: O Segredo da Abelha e A Visita da Velha Senhora.

Para além destas duas peças o grupo vai levar ao Centro Cultural Malaposta a reposição de Bang Bang, Estás morto! 

Maio é sem dúvida um mês muito intenso para o GTAAR. No dia 04 levaram aos Encontros com o Teatro em Caneças, a peça infantil O Segredo da Abelha. No dia 17 voltam aos encontros coma peça A Visita da Velha Senhora. No dia 24 representam no auditório da escola a peça Bang Bang Estas Morto! e no dia 31 vão ao Centro Cultural Malaposta também com Bang Bang.

Esta semana os ensaios realizaram-se todos os dias. Na terça-feira a reportagem do Odivelas Notícias foi assistir e conversar com a mentora e impulsionadora deste projeto, a, agora aposentada, professora Maria do Céu Cardoso que nos contou como tudo começou.

No âmbito da disciplina de História, que lecionava nesta escola do concelho de Odivelas, fez umas encenações com base na matéria que estava a dar e assim surgiu a ideia de criar um grupo de teatro na escola. Amante da arte de representar e ela própria já com algumas participações em grupos amadores, Maria do Céu não olhou para trás e avançou com a criação do GTAAR fazendo apenas uma única exigência: que ao grupo fosse atribuído um espaço que se designava por ginásio mas que nunca o tinha sido por falta de dimensões e apenas servia para guardar tapetes. A exigência foi aceite e o trabalho voluntário de todos tornou o sem préstimo ginásio num funcional auditório que tem sido a casa do grupo ao longo de todos estes anos. Ali se ensaia, ali se levam à cena todas as peças do GTAAR. «A pouco e pouco fomos todos construindo isto, desde os funcionários aos professores, com a ajuda da Junta de Freguesia da Ramada e da Câmara Municipal de Odivelas, que foram dando alguns materiais».

Inicialmente o GTAAR era só composto por alunos da Escola Secundária da Ramada, orientado pela professora Maria do Céu com a ajuda de alguns colegas. «Ao longo destes 16 anos não estive sempre sozinha. Estive algumas vezes sozinha mas noutras vezes tinha outros professores a colaborar comigo. Iam e vinham, eu é que me mantive sempre». Aconteceu também dois alunos da escola do ensino básico que fica perto da secundária, terem vindo para o grupo, porque na sua escola não havia. «Volta não volta tínhamos alguns elementos que vinham de fora». Com o passar dos anos os alunos iam saindo da escola, por concluírem o secundário, mas o amor ao GTAAR mantinha-os no grupo e ainda hoje muitos deles, já formados e no mundo do trabalho, continuam a participar no GTAAR que presentemente tem cerca de três dezenas de membros.

Nas reuniões de início de ano chegavam a aparecer cinquenta e até sessenta alunos mas depois com o início do trabalho esse número diminuía um pouco mas ficavam sempre muitos o que permitia que o GTAAR trabalhasse sempre com um mínimo de três peças, sendo que muitas vezes até seriam quatro.

Mais tarde a convite do presidente da escola a professora lecionou uma disciplina chamada oficina de teatro que fazia parte do currículo até ao 9º ano.

Para além das representações na escola, o GTAAR também atua muitas vezes fora da Secundária da Ramada. Desde o início do projeto Escolas no Teatro, do Centro Cultural Malaposta, que o grupo participa sempre, fazendo também atuações noutras escolas e coletividades em vários pontos do país, contando nessas situações com o apoio da Câmara Municipal de Odivelas na cedência dos transportes e, em alguns casos, das câmaras dos concelhos onde vão atuar.

O ano passado, quando se aposentou, Maria do Céu Cardoso acho interessante alagar o projeto à comunidade e propôs à junta de freguesia a criação de um grupo no âmbito da autarquia. Apareceram algumas pessoas mas eram todas mulheres, jovens e adultas. Isso limitou um pouco as escolhas e por isso a professora decidiu avançar com uma peça infantil e a escolhida foi O Segredo da Abelha.

Este projeto ainda funcionou alguns meses mas acabou por se fundir com o projeto da escola secundária, até porque as condições na escola eram muito superiores. «Juntar os dois projetos foi muito positivo. Neste momento estão a participar no grupo pessoas que vão de miúdos de dez anos a adultos com cinquenta e tal». Embora á primeira vista possa parecer complicado de gerir um grupo com estas características a professora Maria do Céu garante que não é. «Eu se calhar sou uma pessoa cheia de sorte e lido com pessoas que gostam disto, que neste momento vêm ensaiar todos os dias da semana e ainda aos fins de semana para ensaios, representações ou outros trabalhos do grupo».

Quando foi feita a junção algumas pessoas desistiram e outras entraram e foi possível enriquecer o elenco de O Segredo de Abelha para além do grupo de senhoras original.

No que respeita à Visita da Velha Senhora, a ideia da peça surge por proposta de Joaquim Guerreiro, autor, ator, encenador e responsável pelo Artecanes Teatro, grupo que organiza os Encontros com o Teatro, em Caneças. Tendo adorado o texto e vontade de o levar à cena, mas sem o número de elementos suficientes no seu grupo para o fazer, Joaquim Guerreiro propôs à professora Maria do Céu que fosse o GTAAR a representar esta peça, proposta imediatamente aceite. Joaquim Guerreiro fez então a adaptação do texto e ofereceu-se para assumir a encenação, o que veio a acontecer.

O Bang Bang é uma reposição. Considerando o tema extremamente atual Maria do Céu Raposo decidiu voltar a este texto e escolher esta peça para a participação nas Escolas no Teatro, da Malaposta com um novo elenco. «Os miúdos gostam muito de a fazer porque lhes diz muito».

Não é fácil manter um grupo de teatro a funcionar tantos anos e com tantas peças mas o engenho supera as dificuldades e o próprio grupo vai reciclando trajos e adereços, por vezes pedem ajuda à Malaposta, no que diz respeito ao guarda-roupa e vão conseguindo. Maria do Céu Raposo sublinhou, neste aspeto, o apoio da escola. «Não há dúvida nenhuma que me têm apoiado a 100%». Há espetáculos em que é pedida uma importância simbólica que ajuda nas despesas.

Maria do Céu Raposo mesmo aposentada vai continuar à frente deste grupo de teatro «Enquanto puder e existirem pessoas que queiram representar».

Esperemos então pelas próximas três peças de 2015.

A visita da velha senhora

Em cena dia 17 de maio às 21h30 na Sociedade Musical e Desportiva de Caneças.

Em outubro vai estar na Festa de Teatro Amador da Malaposta.

Gullen, cidade no prego.

Numa estação de comboio onde apenas um comboio pára, aguarda-se a visita daquela que há muito partiu, Clara Zachanassian. Senhora com fortuna (muita fortuna) volta à sua cidade natal, e a esperança renasce na população.

Será que vem só matar saudades ou virá salvar Gullen da miséria em que se encontra?

Um velho amor, mais as entidades de relevo preparam a sua visita, revêm pormenores e estratégias para quando a velha senhora chegar. Ainda há tempo, só daí a duas horas chegará o dito comboio. Mas as leis da natureza são quebradas, e um comboio pára em Gullen fora do horário. Para espanto de todos uma figura desce.

Clara volta à cidade que a viu nascer.

A inevitável receção e o banquete no salão do hotel sucedem-se, e Clara anuncia: vem oferecer a Gullen um bilião, 500 milhões para a cidade e 500 milhões para os habitantes. Mas com uma condição, quer que se faça justiça.

Ficha artística

Texto: Friedrich Durrenmatt

Encenação e adaptação de texto: Joaquim Guerreiro

Assistência de Encenação e Direção de atores: Maria do Céu Cardoso

Elenco: Afonso Pascoal, Alexandra Afonso, André Lopes, Andreia Freitas, Fábio Rodrigues, Francisco Mendes, Inês Coelho da Silva, Isabel Pedroso, Laura Lampreia, Mónica Correia, Sofia Diogo e Teresa Tomé.

O Segredo da Abelha

Foi apresentada na edição deste ano dos Encontros como Teatro em Caneças

Uma fábula de Ricardo Alberty em que participam uma borboleta bailarina, uma louva-a-deus beata, um gafanhoto sabichão, um bicho-de-conta trapalhão, uma abelha bondosa, uma joaninha e uma libélula apaixonados e um caracol polícia que pretendem dar uma lição a uma formiga avarenta e rabugenta. Para isso, decidem atirá-la a um poço onde ficará até prometer ser boa. Com algumas peripécias, muita animação, danças e alegria, esta história vai desvendando os segredos da amizade, do amor e da generosidade.

Ficha artística

Elenco: Guilherme Russo, Filipa Alves, Filipa Barradas, Fábio Rodrigues, Isabel Pedroso, Cláudia Carvalho, Maria Rita Rodrigues, Inês Carvalho, Andreia Freitas, Isabel Filipa Beatriz Afonso, Sara Santos

Ficha Técnica: Sara Santos, André Carvalho, Alexandra Afonso, Teresa Tomé, Felismina Russo, Mónica Correia.

Encenação: Maria do Céu Cardoso

Bang, bang! Estás morto!

Em cena no dia 24 de maio na Escola Secundária da Ramada e a 31 de maio na Malaposta

Baseada nos massacres cometidos nas escolas de Columbine e Newport, “Bang, bang! You’re dead” é uma peça que aborda o universo da adolescência, com os seus conflitos, medos e inibições. Fala dos problemas da escola atual, por vezes inibidora de um saudável desabrochar dos jovens. Aborda também o bulling e a rejeição de que alguns jovens são vítimas e a ausência de diálogo entre pais e filhos, compensada pela exuberância da sociedade de consumo, pela atração pela violência, na era da imagem e dos jogos de computador. A esquizofrenia própria das sociedades urbanas, dominadas pelo isolamento gerado pela multidão.

Trata-se de um espetáculo com interesse pedagógico, pois suscita a reflexão em torno de uma questão fundamental: como é possível, sociedades democráticas e esclarecidas produzirem monstros como Josh? Ou será que a própria sociedade é o monstro de que Josh é a vítima?

Para maiores de 12 anos.

Encenação: Maria do Céu Raposo.

DSC_3304 O segredo da Abelha