A 13 de maio de 1989, o bairro do Casal da Silveira, na freguesia de Famões, então pertencente ao concelho de Loures, obteve o seu alvará de loteamento tendo sido o primeiro bairro de génese ilegal as ser legalizado no país. A Câmara Municipal de Loures não deixou passar em branco a efeméride e no dia 14 de maio aprovou, por unanimidade, em reunião pública do executivo municipal, uma saudação ao bairro e à efeméride.

Apesar de hoje o Casal da Silveira pertencer ao concelho de Odivelas, apenas o vereador Carlos Bodião e o deputado municipal José Maria Pignatelli estiveram presentes no evento, no que respeita a membros de órgãos autárquicos, uma vez que o bairro marcou presença, especialmente através de Carvalho Matos, presidente da Comissão de Melhoramentos, na altura da atribuição do alvará e ainda hoje.
O vereador da CDU na Câmara Municipal de Loures fez uma intervenção onde sublinhou a importância desta efeméride.
Na saudação aprovada afirma-se que «Recordar esta data é lembrar e reconhecer o esforço de todos aqueles que, na alutara Comissão de Melhoramentos, proprietários e município, sem uma legislação adequada, acreditaram ser possível a legalização e a melhoria da qualidade de vida dos interessados.
Reconhecimento e agradecimento público, extensivo a todos os que ao longo de três décadas, apesar de todos os obstáculos e dificuldades encontradas, têm procurado a melhoria das condições e a legalidade urbanísticas dos seus bairros».
Ao Odivelas Notícias Carvalho de Matos recordou que foi um processo moroso e complicado mas que com a boa vontade e empenhamento de todos os envolvidos foi possível a concretização favorável do sonho coletivo. «Foram precisos emitir três alvarás, o 2/85, para receber áreas de equipamento, o 58/89 para a generalidade do Bairro e o 6/89 para uma área, cuja propriedade estava em avos indivisos».
O bairro ocupa uma área de cerca de 50 hectares com 15 quilómetros de ruas e cerca de 900 lotes. Segundo Carvalho de Matos «Para executar as infraestruturas a Comissão de Melhoramentos adquiriu maquinaria própria e fez as obras por administração direta, tendo o então município de Loures apoiado com manilhas para as redes de saneamento e com material para as ruas».
A sigla criada pelo bairro: Para Viver Melhor, foi mais tarde adotada pelo município para o Plano Diretor Municipal. «Foi o primeiro bairro de base não licenciada a obter alvará de loteamento, facto de que nos orgulhamos» sublinhou Carvalho de Matos adiantando que se trata de «Uma data que merece ser recordada, não só por nós que a vivemos, mas também pelo município a que hoje pertencemos pois tudo o que foi feito de bom tem como referência obra municipal deixando para a posteridade a indicação de que é possível fazer obra desde que os homens queiram».
No fim de semana foi a vez do bairro assinalar a efeméride com vários atos religiosos e lúdicos.

Até à década 1960, os terrenos envolventes a Lisboa eram de grande apetência agrícola, deixando de o ser, não só pelo abandono da agricultura, mas também pelo incremento da indústria que levou a mão-de-obra campesina, ficando os campos ao abandono.
Até 1973 não estava previsto o impedimento do parcelamento dos terrenos agrícolas, pelo que assistiu ao parcelamento com indicação na escritura de compra que se tratava de terreno para construção, todos sabendo que não havia alvará de loteamento.
Iniciada a Guerra Colonial, iniciou-se novo ciclo ou movimento migratório, com os militares desmobilizados, a fixarem-se nos grandes centros urbanos.
Dispondo de algum aforro económico e de alguma formação, procuraram comprar um pouco de terra para materialização de um sonho antigo: dispor de uma casa própria.
O Poder Político que não percebeu este movimento e nem a nível central nem a nível local descurou soluções, pelo que cada qual procurou a solução de acordo com a sua necessidade e possibilidade.
Em 1958, fora publicada a Lei nº 2092, de 9 de Abril que permitia que os excedentes das contribuições das Caixas de Previdência Social pudessem ser aplicados na construção ou aquisição de casa própria, através de empréstimo de longo prazo.
Os campos foram abandonados e rapidamente passaram a ser vendidos como lotes para construção, onde se assistiu, perante a passividade das autoridades locais, à construção clandestina, mas mesmo clandestina não deixou de ser objeto de tributação fiscal, cuja receita ia parar às câmaras, que as não as licenciava, nem reconhecia, mas aproveitava delas, a receita fiscal.

Excerto de um texto da Comissão de Melhoramentos

Casal da Silveira