Têm surgido posts nas redes sociais sobre a reutilização de bloqueadores no concelho de Odivelas.

Entendo, de forma certamente ingénua, que nenhum dirigente político, autárquico ou nacional, gosta de tomar medidas que implicam onerar ou causar transtornos às populações, como é este o caso.

Por isso ao invés de cair na tentação da critica fácil, opto por analisar os eventuais porquês desta decisão que se por um lado de propõe disciplinar e ordenar certas zonas do concelho, por outro causa transtornos e torna mais vulnerável os bolsos dos odivelenses já de si meio vazios.

A questão é que no essencial, dificilmente resolverá o problema subjacente: anos e anos de falta de planeamento urbano no nosso concelho.

Na minha opinião, a questão em torno dos bloqueadores é mais vasta do que considerar correto ou incorreto a sua utilização.

Entendo desde logo que a utilização dos bloqueadores nas zonas de maior anarquia no estacionamento, é um mal necessário.

Um mal necessário que, a meu ver, se fica a dever a três fatores centrais:
– Chegada do metropolitano a Odivelas, sem a tomada de medidas que adaptassem o concelho a este equipamento;
– Incivilidade dos munícipes e falta de cultura de segurança rodoviária;
– Necessidade de apuramento de receita municipal

Senão vejamos:

Com a chegada do metropolitano a Odivelas, chegou também a modernidade, a faculdade de nos deslocarmos rapidamente para Lisboa e o fim do tormento das entradas e saídas na Calçada de Carriche.

Estou á vontade para falar esta matéria, porque me recordo de na altura ter escrito e alertado para os problemas que, a falta de medidas ao nível do estacionamento e ao nível da rede de transporte dentro do concelho, ia causar no futuro. Aparentemente o que era e é um equipamento de excelência, por si só acarretaria outros problemas.

Infelizmente o tempo veio dar razão.

(I) Uma planificação urbana deficiente ou inexistente a que Odivelas esteve votada ao longo dos anos, (II) a não existência de lugares de estacionamento em número suficiente e (III) a não criação de alternativas quer de transporte entre freguesias, quer de novos estacionamentos, daria, até ao menos atento, resultados desastrosos, numa cidade em desenvolvimento urbano e urbanístico.

Fruto da falta de previsão dos responsáveis de então, temos hoje o triste espetáculo do estacionamento anárquico junto das estações de metro e zonas circundantes, onde milhares de pessoas estacionam onde podem, de qualquer maneira e fora das regras do código da estrada, pondo a sua segurança e a dos outros em risco.

As pessoas necessitam de se deslocar de carro para os terminais de metropolitano e terminais rodoviários e daí seguirem em transportes públicos para os seus locais de trabalho em Lisboa. Foi o que sempre se exigiu: usem os transportes públicos e com a chegada do metro, as populações assim começaram a fazer

E curiosamente, é a postura correta das populações que causa o caos e o estacionamento desordenado.

E porquê?

Porque junto às estações os lugares disponíveis são insuficientes e não há alternativas junto das suas habitações.

Questiona-se: o parque do Sr. Roubado não poderia ter dois pisos? Não se poderia construir silos automóveis ou mais parques de estacionamento? O Silo automóvel junto à estação terminal não poderia estar aberto?

Em verdade algumas destas medidas foram já feitas sem resultados suficientes.

Pergunto: não seria mais profícuo e eficaz a construção de parques deslocalizados nas freguesias do concelho? Não seria mais profícuo e eficaz a construção de parques de estacionamento na Ramada, na Póvoa de Santo Adrião, em Caneças, em Famões e em Odivelas, complementados com uma rede de transportes públicos acessíveis que transportem as pessoas para o metropolitano, em vias BUS?

Isto sem falar de tantos outros projetos, que mesmo sendo de superfície nunca viram a luz do dia.

Com estas alternativas não optariam as pessoas em deixar as suas viaturas nesses parques, em segurança e seguirem de transportes público até ao metro ou até Lisboa?

É triste e anárquico, mas de certa forma é compreensível a incivilidade dos automobilistas, que deixam os carros estacionados de forma muita vezes inconcebível, como em rotundas, em cima de passadeiras e afins.

Compreensível porque desprovida de é uma incivilidade imposta, forçada e também ela necessária.

E a receita municipal.

Os bloqueadores dão receita à Câmara Municipal? Dão certamente.

Vivêssemos bons tempos financeiros e provavelmente o ímpeto na tomada desta decisão poderia ter sido menor e ficaríamos por uma mera ação fiscalizadora esporádica por parte da PSP, que não incluiria bloqueadores, multas, reboque, pagamento de estada no parque da Rua Egas Moniz etc.

É legítimo? Caberá, perante a realidade, a cada um concluir se sim, se não.

Na minha perspetiva mais importante que a concordância ou discordância de cada um, está em perceber as causas do problema e exigir a tomada de medidas para as anular, porque ainda vamos a tempo, porque isso sim também é planeamento.

Um planeamento urbano para hoje e para as gerações vindouras.

Cada um terá o seu prisma de analise, seja a melhoria e rapidez na mobilidade, a segurança rodoviária, as regras do código da estrada, a necessidade de receita.

Eu opto por continuar a tentar perceber como chegamos aqui e o que podemos fazer hoje para não termos este problema amanha.

O metropolitano manter-se-á, o espaço disponível junto às estações de metro não aumentará e a atitude dos automobilistas só mudará com a existência de alternativas.

Ainda vamos a tempo.

A tempo de criar uma rede de transportes que sirva as populações de todo o concelho e que as ligue às portas do concelho, onde ai sim tomam o metropolitano e os autocarros para Lisboa. A tempo de construir novos locais de estacionamentos deslocalizados pelas freguesias e ligar os já existentes com uma rede de transportes que faça jus a esse nome. A tempo de encontrar novas soluções de estacionamento no parque do Sr. Roubado.

A tempo de criar medidas para que os odivelenses não sejam obrigados a levar o carro para todo o lado e não sejam presenteados com este mal necessário.

A tempo de entender esta questão como prioritária na agenda política autárquica e encontrar os meios financeiros necessários, porque no fim e ao cabo, como revela a sabedoria popular…

“… quando há vontade e o homem sonha…. é possível.”

Pedro Miguel Martins