Meo Arena, 07 de março, 22h, 20.000 pessoas, 5 magníficos

Passavam poucos minutos das 22h00 quando mais de 20.000 pessoas percebiam que algo estava prestes a acontecer. A primeira parte, assegurada pelo DJ Cruzfader, lançava as últimas mixadas, quando um negro incomodo inundou a sala e levou a Meo Arena a inicialmente assobiar em uníssono, para depois a uma só voz entoar: Xutos, Xutos, Xutos.

Cinco pontos de luz surgiram então em cinco pontos diferentes no topo da sala.

Tim, Kalú, João Cabeleira, Zé Pedro e Gui, equipados de lanternas na mão, surgiam assim em locais diferentes, descendo entre a multidão, que os abraçava e cumprimentava, as escadarias daquele que para mim será sempre o Pavilhão Atlântico.

Caminhando entre vivas e aplausos dirigiram-se na velocidade que os fãs permitiram, até ao centro da “arena”. Cinco focos apontados para o topo revelavam o encontro de todos eles e assim, sem seguranças e numa plena comunhão com os fãs, subiram ao palco e deram início à celebração dos 35 anos de carreira da melhor banda de Rock N´Roll em Portugal.

Aqui Xutos e Pontapés. Começava a celebração.

Para quem já viu dezenas de concertos de Xutos, nada estava a ser estranho naquela sala. Dos 6 aos 86 anos, várias gerações disseram presente. Filhos, pais, netos, avós, de lenços vermelhos no punho, desenhando “X” com os braços, todos lá estiveram a cantarolar a viva voz as músicas, umas intemporais outras novas, fruto do novo álbum “Puro”.

Álbum “Puro” que deu o mote às primeiras três músicas do concerto.

Palco cru, sem qualquer tipo de decoração, a preto e branco. Havia a promessa de os Xutos brindarem os fãs com um palco nunca visto na Meo Arena. Admito que alguma desilusão pairava no ar pela forma crua e algo despida desta apresentação inicial.

Aos primeiros acordes de ”a carga pronta….”  tudo mudou.

Um pano de cerca de 40 metros cai no palco e revela um painel enorme com 50 contentores grafitados por artistas de rua.

Uauuuu, lindo, maravilhoso… os Xutos prometeram e lá estava o maior e mais belo palco que algum dia os Xutos apresentaram ao vivo acompanhado de um jogo de luzes brutal, abrilhantado com pequenos apontamentos que foram surgindo ao longo da atuação e sempre adaptados à musica que estava a tocar.

Dos 6 aos 86 houve musica para todos. Música para aqueles que só nos anos 90 começaram a ouvir Xutos, música para os mais novinhos e m+úsica, alias hinos, para aqueles que como eu já se sentem legitimamente fazendo parte da Velha Guarda.

“Remar Remar”, ”Barcos Gregos”, “N´América”, “Homem do leme”, “Nesta Cidade”, foram algumas das músicas, que fizeram as delícias dos mais velhos, ainda que vos diga que mesmo ao meu lado estava um pirralho que não tinha mais que 10 anos que berrou a bem berrar “nasce na fonte na fonte da dor” de “Remar Remar”. Quem gosta, quem ama, quem revê nas letras do Tim momentos da sua vida, admito sem pejo que é uma imagem que nos faz soltar uma lágrima. Momento só batido num concerto de Xutos no Avante onde com a minha filhota aos ombros e acompanhado pela família cantávamos juntos “Para ti Maria” com o pai a chorar baba e ralho, enfim… coisas de fã.

Seguiram-se músicas atrás de músicas em 3 horas de concerto. Ai se ele cai não faltou, Circo de feras também não, nem a Vida Malvada, nem a intervenção política com referência direta a Passos Coelho, como é aliás habitual no Dia de São Receber.

Velhinha velhinha foi o “Falhas”, que teve um senão. A camisola portista de Kalú que a meu ver era desnecessária, ahahahah.

Estávamos praticamente no final, a Casinha dava o mote para isso mesmo. Mas quando se pensava que os Xutos tinham fechado a loja, faltava o Para Sempre, tema associado ao filme Tentação. Não é das minhas preferidas mas admito que funciona bem no final do concerto.

Negras como a noite, “Remar Remar”, “Nesta Cidade” e “N´América” foram para mim o expoente máximo na noite de sexta-feira.

Todas as músicas foram, diria estupidamente, cantadas, gritadas, berradas por todos e quando digo todos foram mesmo todos.

Termina Zé Pedro deixando um Até Amanha aos fãs. E para mim foi até logo, pois mal cheguei a casa rodei novamente o Puro e no dia seguinte o Cerco e depois o 88.

Aqui Xutos e Pontapés.

Pedro Martins

Nota: Não sendo jornalista e estando longe de ser crítico musical, quero deixar um agradecimento especial ao Henrique Ribeiro por me dar a oportunidade de escrever este texto sobre o concerto dos Xutos. Para mim Xutos foi, é e será sempre mais que uma banda. Xutos é daqueles coisas que nos habituamos a ter ao lado, ano após ano, música após música, acima de tudo letra após letras. Bom ou mau, foi por ventura o texto que mais gosto, prazer e honra me deu escrever. Um escrito que partilhei  com quem me acompanhou no concerto, a minha companheira Anabela e com quem gostava de ter estado mas não pode, os pirralhos Pedro e Maria. Vivam os Xutos e Pontapés. À nossa Maneira