Com a chegada do Outono, chega também a época tradicional para o desenvolvimento de surtos de gripe no nosso país. Esta doença, conhecida desde os tempos de Hipócrates, continua a ser, nos dias de hoje, um importante problema de saúde pública.
É que apesar de sobejamente conhecida de toda a população, as suas implicações são muitas vezes desvalorizadas. Se não, vejamos: segundo dados da Organização Mundial da Saúde, a gripe infecta anualmente 10 a 20 por cento da população mundial, cerca de 10 por cento dos adultos e um terço das crianças e é responsável, direta ou indiretamente, por meio milhão de mortes todos os anos. Portugal não é exceção: estima-se que as complicações associadas à gripe sejam responsáveis pela morte de 2400 pessoas anualmente. Para evitar estes números, a OMS estabeleceu como meta os 75 por cento de população protegida contra a gripe, um objetivo que, apesar de todos os esforços, tem ficado aquém em Portugal.
Felizmente, a prevenção através da vacinação está ao nosso alcance e não deve ser descurada, sobretudo nos grupos de risco. Nestes indivíduos de alto risco e com complicações pode ser necessária a hospitalização, traduzindo-se em pesados custos para o Estado e implicando o desenvolvimento de patologias mais graves, como, por exemplo, a pneumonia.
De facto a vacinação, é mesmo o principal e mais eficaz método de prevenção e controle da infeção gripal. Em 75 por cento das situações a vacinação evita o seu aparecimento, e em 98 por cento diminui a gravidade da doença.
Assim, a vacina é recomendada a todas as pessoas com maior risco de sofrer complicações após a gripe, nomeadamente pessoas com idade igual ou superior a 65 anos, particularmente se residentes em lares ou outras instituições, residentes ou internados por períodos prolongados em instituições prestadoras de cuidados de saúde (ex: deficientes, utentes de centros de reabilitação), desde que com idade superior a 6 meses, grávidas com tempo de gestação superior a 12 semanas, para proteção de uma eventual evolução grave da doença durante a gravidez e para proteger os seus bebés durante os primeiros meses de vida, doentes, com idade superior a 6 meses (incluindo grávidas em qualquer fase da gravidez e mulheres a amamentar), que apresentem doenças crónicas cardiovasculares, pulmonares, renais, hepáticas, hematológicas, metabólicas, neuromusculares ou imunitárias.
O vírus transmite-se facilmente através de gotículas de saliva, expelidas através da tosse e dos espirros. Transmite-se também pelo contacto direto, por exemplo, através das mãos. Os principais sintomas têm início súbito e incluem febre alta, dores de cabeça, dores musculares e articulares, tosse seca e mal-estar geral.
Para diminuir o risco de transmitir ou contrair gripe deve evitar-se o contato direto com pessoas infetadas, lavar frequentemente as mãos, usar lenços de papel descartáveis e espirrar ou tossir para o antebraço, e nunca para as mãos.

Artur Teles de Araújo
Pneumologista, Presidente da Fundação do Pulmão