Eh pá duas datas marcantes na vida do Zé Povinho, trabalhador e pagante da crise em apenas oito dias é mesmo de deixar qualquer um meio zonzo de emoção, saudade e no contexto atual da crise e da tróica, com uma vontade enorme de gritar o que lhe vai na alma e, até mesmo, de voltar aos tempos da juventude, do Maio de 68, da militância clandestina e mesmo a alimentar o sonho de construir uma sociedade mais justa, mais fraterna e todas aquelas coisas que me enchiam a cabeça aos 18 anos.

Falo de quê? Claro que do 25 de Abril e do 1º de Maio.

Sim porque Odivelas não me deixou esquecer que a célebre revolução made in Portugal, onde os cravos vermelhos viraram símbolo e substituíram as balas e as baionetas, já foi há 40 anos. Mas cá para o Zé apesar de ainda não ser muito velha está muito mal conservada e já perdeu a vitalidade, a frescura e a irreverência. Na verdade agora politicamente poderemos fazer muita coisa mas na prática não o podemos fazer porque o dinheiro cada vez dura menos e as horas de trabalho cada vez têm de ser mais, para aqueles que ainda têm a felicidade de ter emprego o que nos dias de hoje vai sendo mais raro que um elegante cor-de-rosa.

Nos últimos dois anos, se a memória do Zé não falha, a sessão solene da Assembleia Municipal de Odivelas tem sido na Biblioteca do Regimento de Engenharia 1, na Pontinha. Bem escolhido mas na base da escolha não estará uma pontinha de ciúme por a Pontinha ser o Berço da Revolução e ter feito sempre a sua própria sessão solene?

Correndo o risco de parecer um anúncio de um hipermercado sempre vos digo que ainda me lembro de quando a então presidente da Junta de Freguesia da Pontinha, Fátima Amaral, ia de noite, acompanhada de alguns políticos e moradores, bater a um postigo na porta de armas do RE 1 e entregar, por esse buraquinho, os cravos para o senhor comandante que nunca aparecia. Pois o 25 de Abril nasceu ali mas demorou tempo a entranhar-se e por muitos anos apenas de estranhou que aqueles maduros fossem, ano após ano, bater ao ferrolho militar para entregar os símbolos da revolução. Mas, não numa madrugada inteira e limpa (eh pá até pareço a mestrada presidenta) e sim num dia qualquer que não ficou nos anais da história, os militares acordaram para a realidade e passaram a abrir as portas de par em par para receber os cravos e até autorizaram um Núcleo Museológico criado e gerido pelo município. Gostaria de ser como o poeta e acreditar que «As portas que Abril abriu nunca mais ninguém as cerra» ou seja que o Regimento de Engenharia 1 e o Núcleo Museológico do Posto de Comando do MFA não vão ser encerrados para naquele local nascer um condomínio de luxo como aconteceu por exemplo na sede dos homens de gabardina, chapéu e óculos escuros, mas já tenho muitas dúvidas… Parece que os valores de Abril são, para quem desmanda este país, o inimigo público número um e, portantos, o principal alvo a abater nesta guerrilha urbana pela conquista dos tachos, panelas e, nos tempos da tecnologia, possivelmente microondas ou aquelas máquinas que fazem tudo, com nome de desenho animado, que não posso dizer porque seria publicidade.

Não estejam já para ai a dizer que sou camarada do Ilídio Ferreira. Não sou político nem tenho filiação partidária. Mas tenho uma certeza: «Se a malta se acomoda lixa-se» como me diz o senhor Chico da Taberna cada vez que lá vou petiscar qualquer coisita para aconchegar o estomago. Mas, por outro lado, lembro-me de um célebre anúncio que dizia que «Eles falam, falam mas não dizem nada». Pois… Enquanto a malta for apenas falando…

Claro que na casa dos setenta ainda sou daqueles que viveram a ditadura e não desconheço os seus efeitos na vida da sociedade mas tenho filhos e netos e sei que as mais novas gerações vivem a poeira dos tempos modernos e, ou nunca aprenderam ou esqueceram-se rapidamente, o que foram aqueles 48 anos negros da história deste jardim à beira mar plantado. Por isso é importante celebrar e, mais que isso, mostrar de forma simples e facilmente acessível a todos, o que foram esses tempos. Sim porque além de muita gente já não acreditar nos discursos políticos o linguajar da maioria deles é tudo menos acessível ao comum dos mortais que nunca tiveram a oportunidade de ter canudo.

Por isso é com muita alegria que o Zé vê todas as iniciativas que possam cumprir essa função. Por isso é que o Finório dá os seus sinceros parabéns à Sociedade Musical Odivelense pelo seu Grupo de Teatro ter levado á cena a peça 40 anos de Abril e agora? Onde além, de uma forma divertida, mostrar o que foi o regime do senhor que caiu da cadeira e do seu sucessor que imigrou para o Brasil, questiona também os caminhos percorridos nestes 40 anos e mostra que afinal a grande avenida com que todos sonhámos parece mais um caminho de cabras, esburacado e difícil de percorrer. Por é que o Zé dá os parabéns à Paula Nunes que escreveu tal texto e fez a excelente encenação. Por isso é que o Finório dá os parabéns à Helena Costa pelo cenário que me levou ao café do meu bairro, onde não faltava o fado e o futebol. Por isso é que o Zé dá os parabéns aos atores amadores (no sentido de amantes do que fazem e não de ausência de profissionalismo) pelo espetáculo que proporcionaram e pelo facto de, depois de um dia de trabalho, muito árduo certamente, ainda terem a disponibilidade para ensaiar três noites de por semana para, em pouco tempo, conseguirem por de pé uma peça como esta.

Mais parabéns tinha ainda no saco, mas o jornal é de papel e não estica e por isso tenho de me ficar por aqui, mas prometo que quem merece terá certamente oportunidade de ser parabenizado pelo Zé.

Agora, vou tomar um cházinho de flor de laranjeira que me está a apetecer, e porque me estão sempre a acusar de falta de chá, e só depois irei à caça. Divirtam-se que eu volto para a semana, ou não!

Gambuzino ao saco…
Gambuzino ao saco…