Como já é tradição em Odivelas, a Assembleia Municipal de Odivelas (AMO) assinalou, com uma Sessão Solene Evocativa, mais um aniversário do 25 de abril de 1974, que mais uma vez decorreu no Regimento de Engenharia 1, na Pontinha, local onde há 40 anos funcionou o Posto de Comando do Movimento das Forças Armadas que dirigiu as operações militares que derrubaram o regime fascista. Na ocasião usaram da palavra o presidente da AMO, Miguel Cabrita; a presidente da Câmara Municipal de Odivelas, Susana Amador e os representantes das forças políticas com assento neste órgão municipal.

 A sessão começou com uma largada simbólica de balões e decorreu na biblioteca desta unidade militar e para além dos discursos contou com um apontamento musical do Grupo Coral Os pequenos Cantores da Pontinha.

 «Precisamos de ter Abril exatamente aqui…».

Foi bonita a festa, pá

Fiquei contente

Ainda guardo, renitente,

um velho cravo para mim

Já murcharam tua festa, pá

Mas certamente

Esqueceram uma semente

nalgum canto de jardim

Chico Buarque de Holanda

A presidente da Câmara Municipal de Odivelas iniciou a sua intervenção com alguns versos da canção Tanto Mar de Chico Buarque e centrou-se nas mudanças que a Revolução dos Cravos trouxe ao nosso país. Para a edil «Há datas maiores na nossa história, há acontecimentos maiores que não se esquecem e há sentimentos e feitos coletivos que perduram porque também eles são maiores do que nós, são maiores do que o tempo, são maiores do que o medo e profundamente libertadores. Abril foi isso tudo num só dia, numa só noite, numa singular e inspiradora madrugada». Citando Eduardo Lourenço «Uma Revolução é talvez isso: não se sabe para onde se vai, mas segue-se em frente por fidelidade a sonhos mais poderosos do que cada um de nós» Susana Amador sublinhou que «Abril foi exatamente aqui, está aqui tão perto de nós que parece longe».

Susana Amador considerou que o espírito de Abril permanece vivo no Posto de Comando porque «A autarquia, o exército, a escola e a população assim o exigem, porque a história política tem que ser revisitada, refletida, respeitada e vivida nos ideais que lhe estão subjacentes.

Por isso lutámos sempre pela manutenção do Regimento de Engenharia 1 na Pontinha, para que assim continue imaculado, inteiro e limpo o sonho de abril, o sonho de um povo.

Abril aqui tão perto….

Com o 25 de Abril, e ao longo destes 40 anos, o país transformou-se, progrediu e modernizou-se. E Muito dessa mudança e do nível de desenvolvimento que hoje alcançámos deve-se, indubitavelmente, ao Poder Local Democrático» disse a autarca considerando que uma das melhores conquistas da Revolução dos Cravos foi precisamente a legitimidade democrática do Poder Local. «Sem Poder Local autónomo, sustentado e interveniente não há Democracia efetiva e plena. E não podem persistir dúvidas em quanto a isso»

A edil enumerou diversas situações como a escola pública, a ação social, o Serviço Nacional de Saúde, a população sénior, a pobreza das famílias e o desemprego, entre outras e afirmou que «Precisamos de um novo desenvolvimento, aproveitando plenamente as capacidades do País», terminando a sua intervenção a sublinhar que «Precisamos de ter Abril no sítio do poema e nos terraços da presença, precisamos de ter abril exatamente aqui…».

«Celebramos, por isso Abril. Sempre, Abril. Pela democracia e pela liberdade»

Miguel Cabrita

 Miguel Cabrita, presidente da Assembleia Municipal de Odivelas, enquadrou a situação políticas que Portugal viveu durante 48 anos sintetizando: «Um país de silêncios, impostos. De censura. De prisões políticas. De tortura. De perseguições. De saneamentos políticos. Um País de contradições e impasse profundos. Um País que parecia não ter futuro. Também por isso, a esperança desmedida de todos aqueles que fizeram Abril. Que viveram Abril. Que acreditaram que o sonho de um país moderno e desenvolvido era possível. E foi, afinal».

Para o orador «O país de 24 de Abril pode ser hoje uma memória distante. Mesmo para os que nele viveram. Ainda mais para quem só o conhece de palavras, de história(s), de imagens, de fotografias – das pessoas, das cidades, dos campos – em que quase não nos reconhecemos. Mas o lastro desse país ainda está connosco. Esteve sempre».

Miguel Cabrita reconheceu que as últimas décadas foram de profundas transformações em Portugal. Económicas, sociais, culturais. Mas também o foram na Europa, e no lugar da Europa no mundo. «A economia mundial mudou profundamente e a Europa sofreu com essas mudanças; os níveis de crescimento tornaram-se gradualmente anémicos. O projeto europeu mudou e aprofundou os seus níveis de integração, mas também os seus desequilíbrios, impasses e contradições internas. O consenso ideológico em torno do modelo de sociedade na Europa desvaneceu-se».

Sublinhando que «Os direitos – civis, políticos, sociais – não são imutáveis, nem tão sólidos que não se desfaçam rapidamente. (Sobretudo quando, em muitos casos, têm em Portugal 40 anos ou menos, uma gota de história no longo prazo…)» Miguel Cabrita alertou para a possibilidade de os virmos a perder.

O presidente da AMO terminou dizendo: «Celebramos, por isso Abril. Sempre, Abril. Pela democracia e pela liberdade. Pelo acesso ao bem-estar e pela coesão, pela educação, pela saúde, pela segurança social. Por tudo o que sonhámos e queremos continuar a tornar possível. Todos os dias. Para todas as gerações de portuguesas e portugueses».

«O Povo em massa saiu à rua»

Eduarda BarrosPela bancada do Partido Socialista usou da palavra a deputada municipal Eduarda Barros. Sobre o 25 de Abril de 1974 começou por dizer que era «Era para ser um golpe de Estado levado a cabo por um conjunto de militares pertencentes a uma ala dissidente das Forças Armadas, fiéis a um regime totalitário e autoritário, encerrado e encarcerado em si próprio, que há 48 anos oprimia Portugal. A ideia inicial era legalizar os partidos políticos, repor as liberdades direitos e garantias do cidadão, acabar com a guerra colonial e tornar independentes as então colónias, hoje Países de expressão lusófona; foi muito mais como todos sabemos». Mas, «Não foi um golpe de Estado e não o foi porque o povo em massa saiu à rua e sem ninguém estar à espera, nem sequer os próprios militares, tomou conta das ruas, instalou cravos nas armas dos soldados, cantou, gritou por liberdade, espalharam-se abraços, beijos e sorrisos e ao fim do dia estava confirmada a festa, como lhe chamou, na canção, Chico Buarque da Holanda». 

«Os valores e ideais do 25 de Abril permanecem vivos no coração do povo português»

Armindo Fernandes

Armindo Fernandes foi o orador da Coligação Democrática Unitária sublinhou que as comemorações do 40º aniversário do 25 de abril juntam milhares de portugueses em todo o país porque «O seu significado profundo, os seus valores e os seus ideais permanecem vivos no coração do povo português». O orador lembrou «A luta heróica da resistência ao fascismo e a dedicação, o sacrifício e a coragem de gerações de mulheres e homens, nomeadamente, muitos comunistas, que durante 48 anos travaram um firme e decidido combate para que fosse possível por fim a este negro período da nossa história. Combate duro que muitos pagaram com a sua própria vida. A esses democratas e antifascistas rendemos a nossa sentida homenagem».

Armindo Fernandes disse também não esquecer o movimento dos capitães, o levantamento popular «Que ajudou naquela manhã libertadora a transformar a revolução militar numa verdadeira revolução democrática», as grandes conquistas com reflexos em todos os domínios da vida económica, social e cultural do nosso país.

As revisões da Constituição que foram tirando direitos, as injustiças e as desigualdades sociais também passaram pelo discurso de Armindo Fernandes que sublinhou ser por isso que «Vimos exigindo uma nova política que combata e não pactue com as situações de pobreza e exclusão social que se têm acentuado nos últimos tempos e que jamais deviam permanecer num país de Abril». 

«A história e a memória devem ser preservadas»

 Luis SalmoneteLuís Salmonete, usou da palavra pela bancada do PSD considerou que o 25 de Abril de 1974 «É uma data sempre presente para quem viveu este momento» e apenas «Um facto histórico para aqueles que nasceram após Abril de 1974» e que «É por isso que para alguns, especialmente os mais jovens, não é fácil sentir e entender o que foi o 25 de Abril. Provavelmente pensam que é uma perda de tempo a comemoração desta data. Em boa verdade ninguém sente falta daquilo que sempre teve. A liberdade. A facilidade de comunicação».

Lembrando os tempos de globalização e inovação, o orador considerou que no meio de todo o desenvolvimento «Podemos não ter tempo para parar e para pensar e perder algo de muito importante. Podemos não ter tempo para as emoções e para os afetos. É por isso que é importante a comemoração desta data e nos moldes como a Assembleia Municipal de Odivelas a faz e hoje, mais uma vez num local simbólico, que foi o Posto de Comando das Forças Armadas. A história e a memória devem ser preservadas. É obrigação para quem viveu essa data lembrar o que era Portugal antes do 25 de Abril». 

«Este governo demonstra o seu total desinteresse e desrespeito pelos símbolos de Abril»

Paulo Sousa

Paulo Sousa, da bancada do Bloco de Esquerda iniciou a sua intervenção lembrando a importância do Núcleo Museológico do Posto de Comando do MFA e citando o historiador Jorge Martins que em 2009 escreveu: «Um povo sem memória é um povo sem identidade. Uma comunidade que não cuida do seu património histórico é uma comunidade que não o merece». Para o orador cinco anos depois «Continua tudo na mesma, mas pior ainda, é que até aqui este governo demonstra o seu total desinteresse e desrespeito pelos símbolos de Abril».

Paulo Sousda lembrou ainda que «Em 2011 o IGESPAR deu como resposta a uma pergunta feita pela bancada parlamentar do Bloco de Esquerda na Assembleia da Republica, quanto à conclusão do processo, algo tão vago como “Não são líquidos os prazos definidos” e “Nunca inferior a 2 anos” ou seja, não tendo prazo máximo significa que poderemos estar aqui daqui a 20 ou 30 anos sem que o processo esteja ainda concluído. Provavelmente já sem Regimento de Engenharia» e considerou vergonhoso que «Em 2014, 40 anos depois o ponto de onde a Revolução foi comandada, que tirou este pais da escuridão, continue a ser tratado com total indiferença».

«O final anunciado de um regime autocrata, sem visão reformadora e qualquer estratégia de desenvolvimento da economia»

jose maria

José Maria Pignatelli, eleito pela Coligação Odivelas Merece Mais, disse que «Comemoramos 40 anos de um golpe de estado, realizado por militares, que tiveram também a idoneidade em refletir sobre a necessidade de modificar o modelo social, económico e cultural português, bem como a posição no relacionamento com o exterior.

Então, precipitou-se o final anunciado de um regime autocrata, sem visão reformadora e qualquer estratégia de desenvolvimento da economia, muito suportado em negócios exclusivos, pouco industrializado e com uma agricultura demasiado costumada e cada vez mais isolado no panorama internacional».

Nesta Sessão Evocativa marcaram ainda presença os Vereadores Carlos Bodião, Edgar Valles, Fernanda Mateus, Hugo Martins, Paulo César Teixeira, Maria da Luz Nogueira, Mónica Vilarinho, Sandra Pereira e Rui Francisco. Encontravam-se também presentes, o Comandante do Regimento de Engenharia Nº 1, Coronel João Pires, o Presidente da Municipália, Mário Máximo, e os presidentes das quatro juntas de freguesia do Concelho: Corália Rodrigues (Pontinha/Famões), Ilídio Ferreira (Ramada/Caneças), Nuno Gaudêncio (Odivelas), e Rogério Breia (Póvoa de Santo Adrião/Olival Basto).

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